TBO Pulp Fiction: a ordem dos fatores melhora o produto

Como Tarantino chegou ao auge de sua carreira em seu segundo longa

Foto: Reprodução/Miramax
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“O caminho do homem justo é rodeado por todos os lados pelas injustiças dos egoístas e pela tirania dos homens maus. Abençoado é aquele que, em nome da caridade e da boa vontade, pastoreia os fracos pelo vale da escuridão, pois ele é verdadeiramente o guardião de seu irmão e o salvador dos filhos perdidos”.

O TBO teve uma pequena pausa na semana passada, mas estamos de volta para relembrar um dos maiores clássicos dos anos 1990. “Pulp Fiction” (1994) foi o segundo filme dirigido por Quentin Tarantino e, até hoje, é considerado por muitos como a melhor película do diretor. O filme tem tudo o que amamos em Tarantino: violência, diálogos maravilhosos, direção inspirada e a aparição especial do diretor. A obra não tem uma narrativa convencional, nem mesmo para os dias atuais, imagine para a época de seu lançamento. A história é contada de forma não-linear e, aos poucos os acontecimentos, assim como os personagens vão se completando.

Acompanhamos as histórias de Vincent Vega (John Travolta), Jules Winnfield (Samuel L. Jackson), Mia Wallace (Uma Thurman), Butch Coolidge (Bruce Willis), Pumpkin, (Tim Roth), Honey Bunny (Amanda Plummer), Marsellus Wallace (Ving Rhames), Jimmie Dimmick (Quentin Tarantino), dentre outros. O elenco não poderia ser melhor escolhido. Há espaço para todos brilharem. Mesmo sem um recurso de protagonista fixo – ali todos são protagonistas das próprias histórias, mas coadjuvantes do filme -, os personagens têm desenvolvimentos que são adicionados em camadas durante momentos oportunos do longa.

Esqueça a ordem cronológica

Aqui o público sabe apenas aquilo que necessita a cada ato e, aos poucos, vai montando o quebra-cabeça. A ordem dos acontecimentos é decidida, não de acordo com a cronologia, mas da forma que vai prender mais a atenção do público. Isso acontece sem fazer com que a obra se torne desconjuntada. Sob qualquer perspectiva, “Pulp Fiction” é eletrizante, magnético e, apesar da violência explícita, carismático.

Tarantino não se preocupa em manter uma crescente na história. Não espere que, necessariamente, um ato vai tentar se sobrepor ao anterior. Não é esta a intenção. O intuito é contar as histórias dos personagens e fazer o público entender que há ligações entre todos eles. Como consequência do abandono da linha cronológica linear, pode acontecer de vermos um personagem ser morto em um ato e no seguinte estar vivo. Mas Tarantino conduz a trama tão bem que, mesmo assim, o público continua torcendo, temendo e o mais importante: intrigado com o destino do personagem.

Foto: Reprodução/Miramax
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Ponto alto

Arrisco a dizer que “Pulp Fiction” é o melhor filme de Tarantino até então. Isso significa muito, principalmente porque o cineasta colocou a meta de parar após o 10º filme e já temos nove longas assinados por ele. Além disso, ser o melhor filme da carreira de um diretor que não tem filmes ordinários no currículo, é ainda mais louvável.

Os motivos para crer que o segundo longa de Quentin é seu ponto alto são muitos. “Pulp Fiction” é quase um festival de cinema em 154 minutos de uma única película. Os três – ou quatro – contos narrados ali possuem sua própria personalidade, mas ao mesmo tempo funcionam harmonicamente. Como mencionado anteriormente, a escolha por contar a história de forma não-linear, apesar de não ter sido novidade, foi resgatada neste filme. É possível ver referências deste recurso em longas que o sucederam, como no caso de “Cidade de Deus” (2002).

Foto: Reprodução/Miramax
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Outro ponto é que Tarantino consegue tornar coisas absurdas em críveis, quando por exemplo, Vincent atira acidentalmente em uma pessoa dentro do carro. O drama que estava estabelecido – principalmente pela abordagem de Vincent e Jules em um caso anterior – deixa de ser o futuro do “carona” e passa a ser a limpeza do carro. Todo o plot com a atuação de Jimmie e todas as peripécias do trio para camuflar o “acidente” faz o ato oscilar entre a tensão e o cômico de forma natural.

Chega a ser clichê dizer que “Pulp Fiction” é uma aula de cinema, mas estou afirmando mesmo assim. Além dos recursos já listados anteriormente, a obra conta com uma narrativa que prioriza os personagens e o diálogos – pontos fortes nos trabalhos do diretor. O filme também conseguiu transformar quase toda cena em algo icônico. Isso vai desde a dança de Mia Wallace e Vincent, Jules citando uma passagem da Bíblia antes de cometer um assassinato, um tiro acidental, uma pessoa tendo uma overdose, ou mesmo a famosa GIF do John Travolta confuso veio deste longa…

Ao rever “Pulp Fiction” é possível concluir que a obra só melhora com o tempo. Você não vai receber uma lição de moral, mas estará contemplando uma das obras mais importantes do cinema moderno. Mas e você, o que acha deste filme? Tem alguma obra que você gostaria de ver sendo revisitada no TBO? Deixe nos comentários.

Foto: Reprodução/Miramax
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Filme: Pulp Fiction – Tempo de Violência (Pulp Fiction, EUA – 1994)

Direção: Quentin Tarantino

Roteiro: Quentin Tarantino, Roger Avary

Elenco: Tim Roth, Amanda Plummer, John Travolta, Samuel L. Jackson, Bruce Willis, Ving Rhames, Rosanna Arquette, Eric Stoltz, Uma Thurman, Christopher Walken, Maria de Medeiros, Harvey Keitel, Duane Whitaker, Peter Greene, Quentin Tarantino

Duração: 154 min.

Foto: Reprodução/Miramax
Pulp Fiction
Os caminhos de vários criminosos se cruzam nestas três histórias de Quentin Tarantino. Um pistoleiro se apaixona pela mulher de seu chefe, um boxeador não se sai bem em uma luta e um casal tenta executar um plano de roubo que foge do controle.
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