Não! Não Olhe! | Crítica

Hipnotizante e assustador

Análise sobre o filme “Não! Não Olhe!”, da Universal Pictures aqui no site Cebola Verde. Confira a ficha técnica da trama:

Nome: Não! Não Olhe! (Nope)

Estreia: 25 de agosto de 2022 – 130 minutos

Direção: Jordan Peele

Elenco: Daniel Kaluuya, Keke Palmer, Steven Yeun

Distribuidora: Universal Pictures

Gênero: Terror, Drama


“Lançarei sujeira abominável sobre você, farei de você vil e farei de você um espetáculo”

Naum 3:6

Confesso que tenho opiniões muito particulares sobre trailers e sinopse, eu acabo vendo só quando preciso de uma motivação para assistir ao conteúdo, de resto eu tento ser surpreendido pela experiência mais inocente diante do filme. Não estou sendo preciosista ou defendendo essa ideia, eu mesmo já fui a pessoa que via toda notícia, foto, trailer de forma que me criasse um hype, mas tem momentos onde uma única informação é o suficiente para me levar até a sala de cinema. Na experiência desse filme bastou saber que Jordan Peele, diretor de Corra! (2017) e Nós (2019), iria lançar um novo filme para sua cinematografia que, até então, é impecável. 

Dito isso, tudo que vi sobre “Não! Não Olhe!”  foram notícias de escalação de elenco, e pra mim essa experiência cega fez toda a diferença da forma como eu me conectei com esse filme.

 

Em Não! Não Olhe! uma cidade do interior da Califórnia começa a ter eventos bizarros e extraterrestres. Uma dupla de irmãos interpretada por Keke Palmer (True Jackson) e Daniel Kaluuya (Corra!), possuem um rancho de cavalos e são vizinhos de um parque de diversões de uma série de televisão do personagem interpretado por Steven Yeun, inspirada no velho oeste. Os dois então são testemunhas de eventos bizarros e discos voadores.

 

Antes de tudo, acredito que esse seja um filme altamente divisivo, e tenho motivos para acreditar que ele foi formulado para ser dessa forma. Na sua estreia como diretor, Jordan Peele nos surpreendeu com um filme redondo e cheio de camadas. Corra! (Get Out) é, para muitos, um dos melhores filmes de terror da última década e a melhor obra do diretor, que já tem um histórico com televisão. Na minha visão, Peele se consolidou como um dos maiores diretores da atualidade quando assisti Nós (US). A forma com que o filme acabou e eu só consegui ficar por minutos contemplando os créditos enquanto pensava no que eu tinha visto, talvez tenha gerado um péssimo primeiro encontro para a minha companhia, mas me gerou uma experiência única no cinema. Dito tudo isso, no seu primeiro longa, o cineasta parece jogar seguro e mesmo assim acertou um golaço, no segundo ele não apenas demonstrou que não era sorte de principiante ou que ele seria um diretor de uma obra só como elevou a minha experiência como uma pessoa que não consumia tantos filmes de terror, sei que Nós é um filme que não há um consenso tão grande quanto Corra! mas é importante para mostrar que devemos esperar tudo de Jordan Peele, menos que ele repita seu trabalho. 

 

Não! Não Olhe! É um filme que não tem pressa em criar tensão, durante o primeiro ato me peguei pensando o quão intimista era aquela história e como todos aqueles pontos poderiam se conectar para criar uma narrativa maior. Conforme a ameaça é estabelecida fica evidente não só as inspirações cinematográficas que Peele usa para tratar de um tema que pode ser considerado batido, mas fica evidente também através da reação dos personagens quais são as críticas que o diretor está colocando na mesa. Como em um truque de mágica, ele mostra algo com uma mão enquanto está movendo a história com outros elementos que parecem desconexos, que em uma primeira leitura do filme me pareceu que é quando o diretor se complica um pouco ao ligar todas as tramas. O que, na minha visão, foi bastante ambicioso. 

 

Para olhares desatentos, o filme pode parecer só mais um filme de terror, que utiliza muito bem do humor e drama para cativar o público, mas a atenção aos detalhes, a criação de uma mitologia interna e backgrounds complexos para justificar a maioria das atitudes dos personagens mostra a preocupação do roteiro em não fazer a história parecer burra, ao mesmo tempo que não subestima a inteligência do espectador.

No geral, Não! Não Olhe!  é um filme sobre o espetáculo, que prova mais uma vez a versatilidade de Jordan Peele para se contar histórias brincando com o óbvio e com o imprevisível. Não é o melhor trabalho do diretor, nem do elenco, que também foge das interpretações esperadas, mas certamente é uma experiência particular que convida o espectador a visitar o filme outras vezes. No fim, me respondam:

 “O que é um mau milagre?”.