República Popular une partes complementares de novo disco duplo; ouça “Húmus” completo em streaming

Terceiro álbum da banda manauara versa sobre ser jovem em uma Amazônia moderna.

Modernizar e desconstruir a visão estereotipada do que é a musicalidade da Amazônia e o que é crescer em Manaus é o que a banda República Popular busca no álbum duplo “Húmus”. Terceiro e mais ousado disco do grupo, o trabalho é uma reconexão com suas raízes. O projeto já está disponível em todas as plataformas de música digital via Sagitta Records.

Ouça “Húmus”: http://bit.ly/RepPopHumus

Confira o faixa a faixa ao final do texto

O álbum duplo se apropria de ritmos como a toada do Boi de Parintins e o carimbó. República Popular faz surgir uma mescla urbana e contemporânea que traz frescor à sua própria concepção sonora: os tons do indie rock somados à música brasileira que sempre foram associados às suas canções solares ganham novos instrumentos, arranjos e convidados especiais. À veia pop do grupo, soma-se experimentalismo e psicodelia.

“Achamos que ‘Húmus’, com todos seus requintes eletrônicos, pode sim ser considerado um disco de música regional amazonense”, comenta Igor Lobo, que assume violão e vocais. Além dele, a banda é formada por Viktor Judah (vocal e bateria), Vinítius Salomão (vocal e guitarra) e Sérgio Leônidas (vocal e baixo).

O novo trabalho inaugura um ciclo para a República Popular. A banda formada por amigos de escola deu início à sua discografia em 2015, quando gravou seu disco de estreia, “Aberto para Balanço”. 2016 trouxe o EP “Lis”, com letras inspiradas por personagens femininas. Já em 2017, os músicos começaram a revelar o que viria a ser “Húmus”, com a estreia do elogiado clipe “Curió”. Animado pela ilustradora Bianca Mól (autora do livro “Contos de Papel” e conhecida pelo canal de YouTube Garota Desdobrável), o vídeo entregou o compromisso da República Popular em contar histórias com suas novas canções.

Os clipes seguintes, “NVMFDA (Não vem me falar de amor)” e “Somo2”, faixas da segunda parte do álbum duplo, reafirmaram a República Popular enquanto banda manauara. O primeiro, em estética lo-fi, mostra os músicos ornados com pintura facial, remetendo à cultura indígena; e o último foi gravado em pleno palco do Teatro Amazonas.

A transição para “Húmus” faz referência à ideia de início e fim dos ciclos da vida, tão presente nas letras do trabalho. Nada mais natural que traduzir isso no título, batizando o disco com o tipo de solo mais fértil, formado a partir da decomposição de animais e plantas. Da morte, surge a vida. E do fim de uma era para a República Popular, nasce uma banda ainda mais conectada às suas heranças culturais.

“Queríamos que nosso segundo disco fosse uma homenagem ao Amazonas, mas não expressar isso literalmente. Que fosse um retrato da vida contemporânea aqui, nas letras e nos arranjos. Em determinado momento, percebemos que, morando aqui na maior floresta tropical do mundo, não tínhamos como não trazer isso para as músicas. O amor a sua terra natal é um sentimento muito carregado de legado, de passagem entre gerações, então falar como ciclo da vida cabe como uma luva quando falamos sobre nosso Estado”, analisa Vinítius. Traduzindo visualmente essas inspirações e contrastes, a banda apresentou seus dois novos clipes, “Amazônida”, ligado às raízes da cultura manauara; e “Citadina”, urbano e moderno.

Para construir todo esse mosaico, a República Popular convocou a ajuda de parceiros locais e até mesmo de outro estado, como é o caso do clipe de “Amazônida”. A faixa abre o disco e conta com a participação de David Assayag, cantor renomado de Parintins. “Toada do Amanhã” traz a voz de Arlindo Junior, embaixador da cultura parintinense, conhecido como “Pop da Selva”. Já em “Deus”, a cantora Márcia Novo empresta sua voz já reconhecida nacionalmente como representante do cenário pop de Parintins. Por fim, “Ti Tuí” traz a participação de Renata Martins. O disco foi produzido pelo baterista Viktor Judah e entrega uma República Popular profundamente conectada com suas raízes – mas sem abrir mão de olhar para o futuro.

“O primeiro álbum é florestal, grandioso, épico, verde. Este segundo é cinza, intimista, pequeno, urbano. As canções da parte I são conectadas por ambiências e paisagens sonoras, é um disco sólido e unitário. A parte II tem músicas mais distintas, sem conexão e sem muitas paisagens, é um daqueles discos cujas faixas parecem ser de álbuns ou artistas diferentes. A pluralidade sonora de ambas as partes é igualmente rica, mas na segunda, há um caos calculado. Isso se deve à nossa visão de como retratar a cidade, multifacetada, ilógica e inconstante”, explica Judah, responsável pela produção musical do álbum.

Para 2019, a República Popular planeja uma turnê de lançamento e a gravação do DVD do projeto no Teatro Amazonas, no coração de Manaus.