#TBO Batman vs Superman: o preço de ser herói

Foto: Reprodução/Warner Bros.
Foto: Reprodução/Warner Bros.

Por Matheus Augusto

 

Ao rever Homem de Aço e Batman vs Superman, ambos dirigidos por Zack Snyder, tenho a grata sensação de continuidade. Se a duração não fosse um problema, ambos funcionaram como um excelente filme ou minissérie. Diversos elementos abordados no primeiro são reintroduzidos na continuação para justificar as ações e, consequentemente, o confronto entre Deus x Homem. (O Cebola Verde também revisitou Capitão América: Guerra Civil, para ler clique aqui).

Logo na cena inicial vemos que o Batman (Ben Affleck) estava presente na destruição causada pelo confronto entre Superman (Henry Cavill) e o general Zod (Michael Shannon). Ele não apenas leu reportagens ou viu imagens, ele estava lá, junto com prédios desmoronando com pessoas dentro, crianças sem saber onde estão seus pais, uma cidade em cinzas… Uma situação onde nem mesmo o Batman conseguiria impedir. Como um homem para a fúria de deuses?

Ao misturar imagens da destruição de Metrópolis com a morte dos pais, Martha (Lauren Cohen) e Thomas Wayne (Jeffrey Dean Morgan), Bruce se questiona “(…) e o que desmorona, continua desmoronando”. Ou seja, a ordem do mundo, mesmo que não seja perfeita, foi rompida por aquele momento – representado na vida de Bruce pela morte dos pais e do Batman pela confronto de Superman com Zod.

Em Homem de Aço acompanhamos, literalmente, o nascimento de Kal-El. Já em BvS vemos o surgimento do Batman. A última palavra que ele ouve seu pai dizer é Martha, o nome da mãe de Deus e Homem. Mais tarde, Bruce voltaria a ser perseguido pelo nome da mãe, quando, em um sonho, vê sangue escorrendo da sua cripta e em sua mão. Somos mais uma vez expostos ao trauma do personagem. Ou seja, enquanto Bruce, ele não foi capaz de impedir o assassinato dos pais. O Batman talvez pudesse.

Foto: Reprodução/Warner Bros.
Foto: Reprodução/Warner Bros.

Há um deus entre nós

A partir de então, 18 meses depois de Metrópolis ser traumatizada, somos levados a outras questões já levantadas em Homem de Aço. Como confiar em um ser todo poderoso? Como confiar em alguém que não é um de nós? Alguém que trouxe uma guerra até nós? E, então, somos introduzidos a Lex Luthor (Jesse Eisenberg) e a senadora Finch (Holly Hunter). Os dois travam um jogo de poder conduzido por Lex. Ele quer acesso aos recursos kryptonianos para desenvolver uma arma capaz de inutilizar o Superman caso seja necessário. Ela deseja revigorar o sistema democrático e politizar o Superman, torná-lo uma arma de guerra americana, um soldado capaz de seguir regras e obedecer. “Homens com poder não respeitam a política”, “Ele não responde a ninguém, nem Deus”, “Ninguém se perguntou o que o Superman deveria fazer”. Questionamentos como esses são colocados na tela para confrontar a ideia do salvador perfeito.

Foto: Reprodução/Warner Bros.
Foto: Reprodução/Warner Bros.

A trama de Lex Luthor começa a tomar forma. No deserto da Nigéria, Lois (Amy Adams) pensa estar prestes a conseguir uma entrevista exclusiva com um general, quando, na verdade, é apenas uma isca para um plano maior. Soldados são mortos e queimados para apagar os vestígios de balas. Com ela em perigo, o Superman é forçado a aparecer e salvá-la. Consequentemente, ele é colocado na cena do crime e se torna o principal suspeito.

Deuses devem ser temidos

Somos introduzidos agora a um Batman claramente violento, mais torturador do que detetive. Seus esforços para conseguir informações está na força, na tortura, e não tanto na inteligência. Esse é outro tópico de discussão do filme. Alfred (Jeremy Irons), cenas a frente, o alfineta, apontando que ele torturou seis pessoas e não voltou com nada, com o Bruce [a parte detetive], em apenas uma ação, conseguiu dados importantes, sem precisar agredir ninguém, se referindo à cena em que ele hackeia o celular de um dos criminosos contratados por Luthor.

A destruição também é outra justificativa para o medo de Batman em relação ao novo herói. Batman diz: “Tudo mudou com a chegada do Superman”. Agora, continua o Morcego, há deuses, inocentes morrem. Em seguida, ao revelar sua intenção de roubar o carregamento de kryptonita não para destruir, mas para criar uma arma contra o Homem de Aço, ele justifica: “Ele trouxe a guerra até nós, conte os mortos, milhares de pessoas. O que vem a seguir? Milhões? Ele tem o poder de exterminar toda a raça humana e, se acreditamos em 1% dele ser nosso inimigo, precisamos considerá-la como certeza absoluta”.

Foto: Reprodução/Warner Bros.
Foto: Reprodução/Warner Bros.

O combate está sendo formado e, como classifica Lex, Batman é o Homem contra Superman que é o Deus. E, como a figura humana do embate, ele canaliza dois sentimento presentes na sociedade e na política: o medo do desconhecido – alertado desde Homem de Aço – e a impossibilidade de controlar alguém como o Superman – refletido nos debates televisivos e na personagem da senadora. Batman ainda responde Alfred, quando este diz que o Superman não é um inimigo: “Não hoje. Vinte anos em Gotham, Alfred. Já vimos de que valem promessas. Quantos mocinhos sobraram? Quantos deles permaneceram bons?”. Temos aqui dois pontos. Primeiramente, a importância dada pelo Batman a visita do Flash do futuro, quando é alertado de que está certo sobre o Superman, além de sua visão, onde soldados do Superman e ele próprio matam aliados do Batman, que se sente impotente diante do poder do extraterrestre. Ao fim da cena, inclusive, outro temor do Morcego se concretiza e o Superman literalmente o desmascara. Tudo que vem acontecendo reforça a mensagem de que o deus precisa ser parado. Segundamente, a fala também se refere ao próprio Batman. Ele ainda é o mocinho da história? Sim, ele agride criminosos, mas, pelas informações nos dada, a violência passou a ser utilizada não para obter informações, mas para descontar o ódio alimentado dentro de si pelos traumas da perda dos pais, do Robin etc.

O futuro confronto contra o Superman também é exposto pela Mulher Maravilha (Gal Gadot). Em sua primeira conversa com Bruce, ela diz: “Você sabe o que dizem sobre garotinhos? Nascidos sem inclinação natural a compartilhar”. A afirmação volta a apontar para a incapacidade do Batman de encarar a possibilidade de outro herói, mais poderoso, coexistir com ele na Terra.

Enquanto isso, a justificativa para o Superman agir contra o Batman também vai ser formando. Como jornalista, a atuação do Morcego em Gotham chama a sua atenção pela violência. “Boas pessoas vivendo em medo, (…) ele pensa que está acima da lei.” Clark confronta Bruce no evento em prol da biblioteca de Metrópolis. O Morcego, no entanto, critica a hipocrisia, pois o jornal para qual ele trabalha de certa forma apoia o trabalho do Superman.

Justiça com as próprias mãos

“O Morcego é o juiz. Um homem que decide quem vive. Como isso é Justiça?”. O diálogo é com a esposa de um dos homens marcados pelo “demônio de Gotham”. Ela ainda reforça que sabia dos crimes dele, mas, no fim, ele também era um pai de família. Batman se tornou o júri, o juiz e o executor, violando todos os direitos civil e humanos que garantem a todos, mesmo os criminoso, a garantir de um sistema justo. Anteriormente, o Clark já havia sido exposto a essa ideia, ao ver no jornal a manchete “Para presos, marca do Morcego é pena de morte”. Naquele momento, ele já compreende o sistema corrompido em Gotham, onde o Batman, ao contrário dele, atuava como um juiz, não como salvador. E o mesmo questionamento é válido aqui: como o Vigilante da Noite decide quais vidas salvar ou condenar? Ambos divergem sobre a figura do herói – e seus métodos.

Fato é: quando o Batman é acusado de ultrapassar a linha, significa que alguém culpado, que não precisava morrer, morreu – mesmo que indiretamente. Quando o Superman cruzou a linha, uma cidade foi devastada.

“Um homem como aquele não é parado com palavras”. Assim como Bruce (investigador) e Batman (violência) vivem um conflito interno de identidade, o Homem de Aço também passa por situação similar, ao perceber que o Clark não é capaz da tarefa, mas o Superman, sim.

Deus dentro da lei

O conflito interno dos heróis, outro tema do filme, no caso do Superman, também é abordado logo no início da obra. Logo após o Superman salvar a Lois e ela começar a ver as reportagens criminalizando o seu namorado, ela questiona: “Eu não sei se é possível você me amar e ser você”. Assim como abordado em o HdA, o Deus, o Salvador, precisa abrir mão de sua vida pessoal para guiar a humanidade em um caminho melhor. Mais tarde, a obra reforça essa narrativa ao mostrar que ao salvar Lois, outras pessoas morreram em outros lugares e, para sempre, assim será. Mesmo com todas as suas habilidades, não é possível estar presente em todos os lugares ao mesmo tempo e essa é a jornada de aceitação pela qual ele terá que passar ao longo do filme. “Como ele decide quais vidas ele vai salvar?”. Após o confronto verbal entre Clark e Bruce, vemos o primeiro abandonando uma investigação contra o segundo para salvar vítimas de uma explosão em Juárez, no México. Nos é apresentando uma série de cenas onde o Superman salva pessoas ao redor do mundo, em uma ação não apenas altruísta, mas uma tentativa de reconquistar a confiança daqueles que ainda duvidam de seus bons ideais, restaurando sua imagem pública.

Para tratar dessa crise de identidade e a conflituosa figura do Superman, o filme faz uso de um bom recurso narrativo: a televisão. Ao longo dos acontecimentos, acompanhamos debatedores e a senadora utilizando-se do espaço na mídia para colocar o “alien” em xeque. “Os seres humanos têm uma péssima mania de seguir pessoas com grande poder através de caminhos que levam a gigantescas monstruosidades”. “O fato é: talvez ele não seja um tipo de demônio ou salvador, talvez ele seja apenas um cara tentando fazer o que é o certo”. O recurso serve para explorar o fato de como a sociedade irá lidar com a descoberta de um alien no planeta e expande a discussão para a tentativa de descobrir se isso é um acontecimento bom ou ruim.

Foto: Reprodução/Warner Bros.
Foto: Reprodução/Warner Bros.

Assim, o lado bom do Superman também é relatado por meio da televisão, quando um entrevistador questiona se a senadora teria coragem de dizer para um pai em luto que “o Superman poderia ter salvo a sua criança, mas, por princípios, não queríamos que ele agisse”. Ela responde argumentando que a questão não é sobre o Superman agir ou não, mas como ele deve agir, evitando destruições similares a ocorrida durante o confronto com Zod. Importante lembrar que o filme reconhece o Zod como o principal responsável pela destruição, mas também destaca o papel crucial do Superman ter atraído o vilão. Sem ele, “estrangeiros” não teriam invadido a terra com interesses de dizimar a população humana. O arco televisivo dentro do filme é encerrado com “Deve existir um Superman?” e com a resposta: “Existe um”. O Superman existe, mas como vamos lidar com ele? Assim, as histórias contadas na mídia servem para destacar o sentimento ambíguo dos humanos e da esfera política em relação ao Superman e sobre como ele deve se comportar.

Superman e o rastro de sangue

O plano de Lex continua. Vítima da destruição de Metrópolis e funcionário da Wayne Finance, Wallace Keefe (Scoot McNairy) é solto da prisão após pichar o monumento do Homem de Aço e convencido pelo falastrão a depor contra Superman no Senado. Em sua cadeira de rodas, uma bomba. O alien comparece ao julgamento e, assim com fez no filme anterior, onde deixou ser algemado, aqui ele tenta novamente se comportar como humano. E, ao não impedir a explosão, se sente culpado, cego, pois, ao tentar agradar os humanos, limitou seu poderes. Mais descobrimos, porém, que Lex colocou chumbo na cadeira de rodas para evitar a visão do Superman. Após a explosão, Superman salva algumas pessoas e desaparece, levantando mais suspeitas sobre sua participação no crime. Se o Superman estava lá e não fez nada para impedir, ele não é cúmplice?

Ele percebe que por onde ele passa há um rastro de destruição e, por isso, precisa se afastar para uma jornada de autoconhecimento. Antes disso, ele interrompe a perseguição do Batman e o condena: “O Morcego está morto. (…) Considere isso misericórdia”, nas expectativa de que a violência autoritária do vigilante se encerre.

Foto: Reprodução/Warner Bros.
Foto: Reprodução/Warner Bros.

Em sua jornada, Kal-El abandona o Superman e, como Clark, passa a encontrar respostas para sua crise de identidade. Sua mãe, Martha (Diane Lane), o conforta: “As pessoas odeiam o que desconhecem. (…) Seja o herói delas ou não seja nada (…) você não deve nada a este mundo”. Salvar vidas é um favor que ele faz a humanidade. É impossível ele ser perfeito numa sociedade que está sendo pronta para atacar e julgar o outro. Ele nunca poderá salvar todas as pessoas, mas deve valorizar aquelas que protegeu. Mesmo para as que não pôde salvar, ele deu esperança, e, os que ficarão, podem sonhar com um mundo melhor. O papel de deus parece um fardo pesado. Seguindo sua caminhada, ele delira com o pai, que também fala sobre a incapacidade dele, mesmo com seus superpoderosos, se sentir responsável por todas as vidas humanas. Sem ele, o número de mortes seria ainda maior.

Batman volta a discutir com Alfred a importância de derrubar o Superman: “É sobre o futuro do mundo. É o meu legado”. Até aquele momento, ele teve apenas que lidar com criminosos, “ervas daninhas”, ameaças insignificantes para a humanidade, importantes apenas para o universo contido de Gotham.

“E agora deus se curva à minha vontade”

O plano orquestrado por Luthor chega à sua sequência final, Martha e Lois sequestradas, forçando o Superman a, assim como no início, se expor. Lex, então, revela suas intenções: punir deus por ser uma das pessoas que não foram salvas. Enquanto apanhava do pai, deus estava preocupado em proteger outras vidas. A fraude que é o Superman deve se tornar pública. “Se deus é todo poderoso não pode ser de todo bom… e se é de todo bom, não pode ser todo poderoso”. Luthor ainda fala sobre o medo do Batman: “Ninguém permanece bom neste mundo”. A estratégia é forçar Superman e Batman duelaram até a morte, com, obviamente, o Batman, representante da Humanidade, morrendo, e com a cidade sendo destruída por Doomsday. Assim, o Homem de Aço voltaria a ser obrigado a matar alguém para salvar a morte, mas desta vez não seria Zod, mas um herói. A queda do Superman é o mais próximo que Lex pode chegar de se vingar de deus.

Assim, chegamos ao momento anunciado pelo título do filme que, na prática, é relativamente curto. Batman volta a ressaltar que Superman foi criado como alguém especial, enquanto ele não e, aquele momento, é crucial para seu legado. Pouco disposto a ouvir o relato do Homem de Aço, que o tenta a convencer a ficar ao seu lado para derrubar Lex, Batman, mais uma vez, parte para violência – pois, como faz com suas vítimas, julgou o Superman culpado. O alien, por sua vez, percebe que a maneira mais fácil de terminar com aquilo é matando o Morcego.

Foto: Reprodução/Warner Bros.
Foto: Reprodução/Warner Bros.

Algumas pias e privadas quebradas, chegamos ao antônimo de “Avengers, assemble”. Prestes a finalizar o Superman com sua lança kriptonita, Batman ouve as últimas palavras ditas por seu pai: Martha. Antes, não estava disposto a ouvir, mas ao escutar o nome ele volta a ser o Bruce, a criança que viu a própria mãe ser assassinada. Seus pais morreram sem motivo, então, se quiser matar o Superman, ele precisa garantir que não está apenas cometendo um assassinato, o vilão que jurou não se tornar.

Naquele momento, Batman percebe que matar o Superman não o tornará especial, nem será seu legado. “Martha não morrerá esta noite”, promete. Mais uma vez, a frase diz mais sobre ele do que seu adversário. É a chance de voltar a noite da morte dos pais e, ao contrário daquela vez, ser alguém capaz de impedir o assassinato, do trauma que o assombra.

Enquanto os heróis passam a focar em seus verdadeiros objetivo, Lois joga fora a lança responsável por quase matar a pessoa que ama. No confronto final, o Superman é forçado a recuperar a lança e tomar a sua decisão final, como anunciado pela mãe: ser tudo ou ser nada. Ele opta pela primeira.

Lex Luthor é preso, mas antes libera uma nova ameaça – ignorada em Liga da Justiça.

Um verdadeiro americano

As manchetes anunciam: “Superman está morto: noite de terror, manhã de perda”. No fundo, outro jornal estampa: “Kennedy está morto”, como uma comparação implícita da tragédia de duas figuras americanas. Kal-El finalmente foi aceito, considerado “um de nós”, mesmo tendo origem em outro planeta. Pela cidade, celebração em agradecimento ao seu sacrifício. “Eles não sabem honrá-lo a não ser como soldado”. É a prova maior de que ele foi reconhecido como um herói, talvez imperfeito, mas americano. O falso deus não é mais falso. O luto, não mais a desconfiança, invade a cidade: a esperança está morta.

Diante disso, Batman e Mulher Maravilha discutem sobre a importância de honrar a morte do Superman e encontrar outros metahumanos. Com ele, talvez a próxima batalha, prometida por Batman em sua visão, não exija sacrifício como aquele. É forma digna de honrar o Superman, que, ao assumir seu fardo – para ser aceito -, precisou abrir mão de sua vida pessoal, a mãe e Lois, e morrer.

Sacrifícios

Batman vs Superman não é uma obra de arte – por quatro anos pessoas têm apontando seus defeitos. Mas, certamente, ao menos para mim, revigora o gênero para além do humor e do embate mocinho versus vilão, e traz debates fundamentais sobre a presença de super heróis no mundo de hoje. É melhor ser roubado ou morar na mesma cidade que o Superman, capaz de destruir prédios em questão de segundos? O filme faz bem ao explorar tanto o sentimento conflitante da população como do Superman, o deus rejeitado. Ele não deve nada a este mundo diz sua mãe. Salvar o mundo, uma, duas ou mais pessoas, é um favor que ele está fazendo e, mesmo assim, acaba sendo crucificado.

Tecnicamente, o tom é ainda mais sombrio que Homem de Aço. E, acredito, ser necessário. É um filme sobre incertezas, mortes, sacrifícios, traumas. A direção do Zack Snyder é definitivamente mais equilibrada e acertada do que no filme anterior, quando o diretor usa excessivamente de zooms, fazendo parecer uma série de comédia no estilo mockumentary. Temos cenas bonitas aqui, como a primeira revelação do Batman e sua luta antes de salvar Martha.

A trilha sonora de Hans Zimmer é ainda mais eloquente, na busca de construir o épico que, no fim das contas, decepciona. Para um filme que se propõe inicialmente a tratar sobre questões morais e filosóficas sobre a figura do herói, encerrar com batalhas eloquentes esvazia as discussões propostas. A batalha entre Noite e Dia é mais curta do que promete ser e Doomsday criado por Luthor é apenas uma distração para unir os heróis em uma batalha gritante e justificar o sacrifício do Superman. O vilão assim, tem o único propósito de caos, que, sim, é um dos temas tratados para justificar a demonização do Superman, parece superficial para todo o plano de Lex.

Foto: Reprodução/Warner Bros.
Foto: Reprodução/Warner Bros.

Batman vs Superman questiona o olhar cruel da sociedade, o preço de ser um salvador (apesar do bom senso nos induzir que não há como odiar alguém responsável por salvar vidas humanas), o ego e os traumas dos heróis e como uma sociedade, às vezes, só aprende a valorizar quando perdem. Em Homem de Aço, vemos a ascensão e queda do Superman. E esse ciclo se repete novamente neste filme. No primeiro, o alien é obrigado a matar alguém, mesmo que seu inimigo. No segundo, ele se sacrifica para proteger a Terra. No fim das contas, Batman vs Superman é sobre o preço de ser herói.

Ding. Ding. Ding. O Snyder Cut está vindo!

Texto: Matheus Augusto