Se em live-action o universo cinematográfico da DC divide opiniões, o mesmo não se pode dizer sobre as animações. Desde a época dos Super Amigos da Hanna-Barbera, passando pela série animada do Batman nos anos 1990 desenvolvida por Bruce Timm, até chegar nas produções mais recentes como Justiça Jovem ou a série da Alerquina, as animações costumam ter êxito do público e da crítica. Foi com o mesmo padrão de qualidade que surgiu o universo da DC neste estilo. Apesar de já lançar filmes de animação há tempos, em 2014 a DC resolveu dar o pontapé inicial no universo interligado com “Liga da Justiça: Guerra”. Depois dele, diversos outros filmes, sejam solos ou de equipes começaram a ser produzidos. Assim como do outro lado do muro, as cenas pós-créditos se tornaram comuns e, como a concorrência, uma ameaça constante rondava e mexia com o imaginário dos heróis.
Assim, após 15 filmes – entre solos e em equipe -, é lançado “Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips”. O longa que fecharia o arco da grande ameaça de Darkseid (Tony Todd). As similaridades com o primeiro longa da equipe vão além do título e do vilão principal. No entanto, apesar de ter sucesso em diversos pontos, o filme mais recente fracassa em vários aspectos, principalmente quando mexe nas personalidades de alguns personagens.
Voltando a falar de aspectos positivos, a direção de Matt Peters e Christina Sotta ajuda a valorizar os acontecimentos através de planos mais focados nas reações aos acontecimentos do que na luta em si. Mesmo sem inovações na forma de animação ou designer, a produção consegue ser eficiente e não decepciona, principalmente nos cenários de destruição. A trilha sonora de Frederik Wiedmann é mais um recurso que ajudar a contar a história com maestria e é um show à parte. Outra ideia acertada foi a divisão de grupos para enfrentar a ameaça, apesar de neste quesito, ser algo que o público assistiu recentemente, a execução é bem feita.
Ultimato da DC?
É difícil falar de Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips sem falar de “Vingadores Ultimato”. Primeiro porque, assim como na narrativa contada pela Marvel, os heróis da DC também são derrotados. Porém, as consequências chegam a ser maiores, não só pelo número de baixas, mas pelo o que Darkseid faz com os mocinhos. A tortura física e emocional vai além da derrota. Como resultado, somos apresentados à novas versões dos personagens que conhecemos, como um Superman (Jerry O’Connell) sem poderes após ter tido kryptonita injetada em seu corpo e largado na Terra para ver a humanidade perecer; um Batman (Jason O’Mara) que sofreu lavagem cerebral – de novo – e passa a trabalhar para Darkseid, assim como acontece à outros membros da Liga que tiveram partes do corpo substituídas por peças mecânicas. Porém, ao contrário da narrativa da Marvel que teve dois filmes de quase 3h cada para desenvolver a história, a DC faz isso com 1h30.
Apesar de conseguir condensar os acontecimentos na duração dos filmes e, de certa forma, transmitir o peso das consequências, algumas partes da narrativa são perdidas no processo. A perda mais notável é primeira batalha entre Liga da Justiça, Jovens Titãs, alguns vilões da Terra contra o exército de Darkseid. Alguns trechos da guerra são apresentados em forma de flashbacks, o que aumenta a sede para assistir e entender como os mocinhos foram massacrados.
Apesar disso, a animação consegue um feito que os live-actions da DC não têm êxito nos últimos filmes: entender o Superman. Mesmo sem poderes, Clark não deixa de se mostrar como símbolo de esperança e salvar vidas. Importante salientar que, mais do que dizer que o S no peito do Azulão significa esperança, é preciso mostrar o sentimento que ele transmite indo além dos que suas habilidades físicas são capazes.
Quando um Superman debilitado é capaz de salvar uma Ravena (Taissa Farmiga) desacreditada e próxima a cometer autoextermínio, é apresentada a forma de resgatar o símbolo do homem de aço. Aliás, a jornada de Clark com Ravena é um dos pontos altos do longa. Apesar de fragilizada pelas investidas de seu pai Trigon (Jon Bernthal), a adolescente recupera a esperança e integra a resistência à invasão dos parademônios, junto de Superman e Lois Lane (Rebecca Romijn).
Lois vs Alerquina
Voltando aos pontos negativos, é praticamente impossível imaginar que Amanda Waller mesmo depois de morta, permitiria que o comando do Esquadrão Suicida ficasse nas mãos de Alerquina (Hynden Walch). Mas essa não é a questão mais inacreditável envolvendo o grupo. Isso porque, para conseguir apoio deles, Lois enfrenta Harley em uma luta e a vence.
Final feliz?
Mesmo com o Darkseid preso junto com Trigon, num plot twist, após o demônio se sacrificar para salvar a filha, o final não é realmente feliz. Zattana (Camilla Luddington) e Batman até orquestraram um plano de emergência – que mesmo após a lavagem cerebral, não foi descoberto por Darkseid – que não foi capaz de salvar o planeta, já com a estrutura fatalmente comprometida pelo exército de Apokolips. Os poucos sobreviventes da batalha estão física e mentalmente quebrados e tudo se encaminha para um desfecho amargo. Até que Flash revela ter provocado o Flashpoint ao voltar no passado e salvar sua mãe. O filme se encerra com o velocista tentando recriar o fenômeno para salvar o planeta.
Contudo fica em aberto se o universo de animações da DC será totalmente rebootado, ou apenas algumas partes, ou se Flash – que assim como os outros, está debilitado – terá forças para conseguir consertar as coisas.
Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips encerra um arco, mas de forma apenas satisfatória. O filme acerta em muitos pontos, principalmente no que diz respeito às consequências das ações dos heróis, mas peca em alguns aspectos óbvios. A animação cumpre seu papel mas não se destaca em meio a um universo de animações com obras muito superiores.
Guia
A DC foi construindo a ameaça e características dos personagens que culminaram nesta última aventura ao longo dos anos em suas animações. Todas as ligações e motivações dos agentes da trama foram costurados um a um. Logo, quem assistiu e acompanhou os personagens a cada animação, vai se identificar e sentir mais a gravidade dos acontecimentos. Porém, apesar de não ser o ideal, para assistir e entender o último filme da equipe, alguns longas podem ser dispensados.
Eis os filmes indispensáveis para assistir Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips:
⦁ Liga da Justiça: Guerra;
⦁ Liga da Justiça vs Jovens Titãs;
⦁ Liga da Justiça Sombria;
⦁ A morte do Superman;
⦁ O retorno do Superman.