O cinema de heróis solidificou sua presença nos cinemas recentemente, com a criação e o desenvolvimento do Universo Cinematográfico da Marvel. Apesar da qualidade dos filmes serem passíveis de questionamento, o impacto nas telas não é. As bilheterias bilionárias e a mobilização dos fãs – mesmo com intenções não tão boas, como as críticas preconceituosas à “Pantera Negra” e “Capitã Marvel” – provam isso. Os heróis passaram a ter presença regular nas salas e solidificaram o que era, até então, apenas obras pontuais baseadas em quadrinhos.
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Old, but gold
É preciso, porém, reconhecer a importância dos antecessores que desbravaram o mesmo caminho e mostraram o potencial das adaptações das HQs. O exemplo de maior sucesso, levando em consideração não apenas a crítica, mas também a renda, é a trilogia do “Batman” dirigida pelo explica-tudo-gênio-viciado-em-fazer-filmes-sobre-tempo Christopher Nolan, com os dois últimos filmes ultrapassando a marca de R$ 1 bilhão.
Porém, além de outras obras do gênero marcantes que merecem menções honrosas, como “Batman” (1989), vejo um filme esquecido ou apenas não tão reconhecido – talvez por se tratar de uma animação: “Os Incríveis”(2004). Sim, concordo com você. Pode não ser o melhor filme da Pixar ou mesmo de heróis, mas, ao revê-lo, ainda continua surpreendentemente bom.
A verdadeira fórmula Marvel
É a fórmula Marvel antes da fórmula Marvel ser criada. Acompanhamos uma família de heróis que, assim com a repressão política sofrida pelo Homem de Aço em “Batman v Superman”, são obrigados pelo governo a manterem uma vida ordinária e nunca mais exporem sua identidade. Mas como viver no anonimato quando a única coisa que você sabe fazer é salvar vidas? Atraídos por esse extinto, novamente como o Superman, o Sr. Incrível (Craig T. Nelson) volta discretamente ao trabalho. Logo sua família é obrigada a também retornar à ativa para salvá-lo.
É uma adaptação de quase 2h que flui rapidamente. Apesar do tempo, considerado longo para animações, é objetiva – e clara. O roteiro é preciso ao criar soluções simples, entretanto criativas para os personagens, com personagens de diferentes personalidades e estilos.
Crise de identidade
O início do filme é quase uma paródia das obras de heróis atuais, com críticas ao modo com os protagonistas são chamadas a cada dois segundos para resolver um crime diferente. Ao banir “Os Incríveis”, a adaptação continua inovadora nos dias de hoje por não buscar tratar apenas do bem x mal, herói x vilão, mas buscar refletir que, ao vestir uma máscara, o herói não esteja apenas escondendo quem ele é, mas revelando quem sempre foi.
O Sr. Incrível é forçado a viver uma vida ordinária de escritória, sua esposa, Helen Parr (Holly Hunter), a única que parece lidar bem com o não uso dos poderes (apesar de prontamente usá-los quando se vê necessária), passa a viver realizando tarefas domésticas, Violet (Sarah Vowell) ainda continua a ser aproveitar do seu dom e Dash (Spencer Fox) deseja expor seus poderes, mas são obrigados a fingir uma normalidade que nunca existia.
Outra qualidade do filme é em balancear perfeitamente a comédia com os momentos dramáticos, sabendo a hora de evitar piadinhas e se levar a sério. (Aprenda, Marvel!).
Incrível
Assim como outros filmes da Disney, “Os Incríveis” não é uma obra apenas de entretenimento infantil (e não haveria nada de errado nisso), mas também investe em discussões sobre a figura do herói, abordado em diversos filmes e séries live-actions que chegariam aos cinemas anos depois. O tema, também discutido em outras mídias no passado, ainda continua interessante – “Watchmen” (HBO) está de prova! Já em 2004 a obra já se mostrava madura o suficiente para discutir o tema, mesmo que não se entenda sobre ele. E talvez tenha sido melhor assim. Heróis não são filósofos, contabilistas, seguradores… são apenas heróis. E às vezes preferem cair na porrada do que na discussão. E todo mundo sabe que porrada em família é bem mais interessante que um contra um.
Título Original: The Incredibles
