“No, I am you father”.
Desculpa, mas claramente essa crítica contém spoilers. O #TBO desta semana vem de uma galáxia distante e é a primeira sequência do quadro. Desta vez nossa missão é descascar a importância de “Star Wars Episódio V: O Império Contra-Ataca” (1980) para a cultura pop e também para o cinema como um todo. O segundo capítulo da ópera espacial mais famosa do mundo nerd tinha uma missão difícil: corresponder às expectativas criadas pelo sucesso de seu antecessor. O longa não só correspondeu, como superou o primeiro em todos os quesitos.
O diretor desta vez não foi George Lucas, apesar de todo o envolvimento no roteiro, efeitos especiais dentre outros. Reconhecendo seu ponto fraco, Lucas passou a direção para a responsabilidade de Irvin Kershner, o que mostrou ser uma atitude acertada.
Desconsiderando o fatídico especial de Natal – “Star Wars: The Holiday Special” (1978) -, o episódio V foi o segundo filme da história da família Skywallker, mesmo que na época ainda não soubesse que se tratava de uma trama familiar. Assim, há 40 anos, chegava aos cinemas aquele longa que iria revolucionar a história do cinema para sempre.
Personagens
A obra contou com a volta do trio protagonista do primeiro filme – Luke (Mark Hamill), Han Solo (Harrison Ford) e Princesa Leia (Carrie Fisher) -, os carismáticos droids R2-D2 (Kenny Baker) e C-3PO (Anthony Daniels) e o fiel escudeiro de Han, Chewbacca (Peter Mayhew), além do vilão do primeiro filme, Darth Vader (David Prowse/James Earl Jones). Todos esses personagens tiveram desenvolvimento aprofundado e cada qual desempenhou seu papel na ampliação da trama.
Luke deixou de ser um rapaz inocente e começou a entender melhor seu papel na luta contra o Império e o que significa ser um Jedi. Leia, assim como no primeiro longa continua sendo uma mulher forte e badass, além disso, as capacidades de atuação de Carrie Fisher são melhor aproveitadas. Enquanto Han, que em Nova Esperança é apenas um contrabandista, desde que decidiu ficar e lutar com os rebeldes, ele tenta usar suas habilidades nem sempre nobres a serviço dos mocinhos ao passo que também desenvolve seu relacionamento com Leia.
Mas não só de personagens antigos esse filme se sustenta. Ele também adiciona figuras icônicas à galeria de personagens, como Mestre Yoda (Frank Oz) e Boba Fett (Jeremy Bulloch). Enquanto Yoda tem como intuito ser o guia de Luke e suprir a lacuna deixada por Obi-Wan Kenobi (Alec Guinness). O baixinho verde cumpre muito bem o seu papel, além de seu carisma e jeito de falar característicos. Não por acaso, ele é até hoje um dos melhores e mais amados personagens da franquia. Yoda é o último Jedi vivo e apesar da aparência frágil consegue passar para o público o quão poderoso é e como Luke precisa de suas instruções para o treinamento.
“Não. Tentar, não. Faça, ou não faça. Tentativa não há.”
Boba Fett por outro lado não tem muito o que contribuir com o roteiro, aparecendo poucas vezes, mas seu designer foi o suficiente para atrair a atenção do público. Seu sucesso foi tamanho que ele teve mais participação no futuro em outras mídias de Star Wars.
A presença do Imperador Palpatine, mesmo que nas sombras, através de um holograma, em sua breve cena, é estabelecida como uma ameaça. Além disso, as ordens que ele delega à Darth Vader tem consequências no desenrolar da trama.
Bizarrice
Mas apesar dos inúmeros pontos positivos do longa, é impossível não lembrar de um dos momentos mais controversos da franquia: o fatídico beijo entre Leia e Luke. O flerte dos dois começou desde o início de A Nova Esperança, inclusive, Luke só se interessa em participar da revolução após botar os olhos na princesa.
Apesar deles não saberem a relação sanguínea que os liga, é um tanto perturbador saber que George Lucas parece ter se esquecido da cena ao decidir revelar no próximo longa da franquia que os dois são irmãos.
O contra-ataque
Após uma derrota significativa com a destruição da primeira Estrela da Morte, o Império planeja se vingar dos Rebeldes, daí o título do filme. Com isso o tom aventureiro da primeira película, apesar de ainda presente,ganhou pitadas de seriedade. Por isso, até o lançamento de “Os Últimos Jedi” (2018), o Episódio V era considerado o mais sombrio da franquia.
Neste longa o Império mostra aos Rebeldes que não estão para brincadeira. A trama foi dividida em arcos onde cada parte da resistência tentava lidar com o Império. A construção, assim com a divisão dos grupos, caiu como uma luva e foi tratado com maestria. Com o sucesso do primeiro filme, o orçamento deu uma melhorada que pode ser notada através dos cenários mais trabalhados e detalhados.
Final inesperadamente delicioso
Não é que seja agradável ver os mocinhos levando uma surra, pelo contrário, mas a forma com que O Império Contra-Ataca prepara o público para seu desfecho é impressionante. A construção do climax é feita delicadamente, mas de forma sólida.
Os primeiros a se darem mal são Han, Leia e os outros a bordo da Millennium Falcon. Isso acontece quando Han é traído por seu amigo, Lando Calrissian (Billy Dee Williams), que os entrega às forças do Império. Lando é engraçado, charmoso e muito parecido com o perfil de Solo no Episódio IV, então apesar de ser coerente com um fora da lei, as ações dele são inesperadas pelo público.
Luke prevendo a encrenca de seus amigos, decide enfrentar Vader, mesmo sem concluir seu treinamento. No meio do confronto, o aspirante a Jedi perde uma mão, mas pelo menos sobrevive. Darth Vader tenta seduzir o rapaz para o lado sombrio da força e então faz a famosa revelação: Luke é seu filho. Hoje, o spoiler mais conhecido da cultura pop pode não ter o mesmo impacto, mas imagine descobrir isso dentro da sessão… Uma decisão corajosa e revolucionária.
Gosto de quero mais
Após tantas reviravoltas, a película termina com Han congelado em carbonita para ser entregue à Jabba; Leia vai de princesa à escrava; Luke sem uma mão, com questionamentos sobre sua origem e qual papel desempenhar nesta batalha. O filme termina com o triunfo do Império Galático e com os Rebeldes divididos e derrotados.
Vamos a uma comparação: em 2018, após “Vingadores Guerra Infinita” ser lançado, os fãs se descabelaram por um ano até conseguirem saber como Thanos seria derrotado em “Vingadores Ultimato” (2019). Agora imagine a tortura que foi para quem viu o Episódio V, ter de esperar por três longos anos até conferir o destino de seus personagens queridos? Isso mostra a audácia e coragem do roteiro.