Prepare seus bat-mamilos, bat-patins e bat-cartão de créditos para descascar esse TBO.
Nesta semana Joel Schumacher – diretor de dois filmes absurdamente importantes para a comunidade nerd – nos deixou aos 80 anos após lutar durante um ano contra o câncer. Schumacher assinou a direção de “Batman Forever” (1995) e “Batman & Robin” (1997) e, graças a isso, era visto como persona non grata por grande parte dos fãs. Apesar disso, os filmes dele foram fundamentais para a consolidação do cinema dos quadrinhos que temos hoje em dia. O TBO desta semana tem como intuito descascar e por que não fazer justiça à um dos filmes de heróis mais marcantes do cinema: “Batman & Robin”.
Confira também nosso TBO sobre “Batman” do Tim Burton.
3 batmans em 8 anos
Ah os anos 1990… Uma época onde a sociedade estava completamente sem filtro e isso se refletia nas obras audiovisuais. Em um tempo que a família se reunia aos domingos para assistir pessoas seminuas se agarrarem atrás de um sabonete na icônica “Banheira do Gugu” nada mais poderia nos surpreender, certo? Errado e esta resenha é prova disso.
Após as saídas de Tim Burton – diretor – e Michael Keaton – protagonista – da franquia do “Cavaleiro das Trevas” nos cinemas, a Warner chamou o diretor Joel Schumacher para assumir a terceira produção. A estética gótica de Burton deu lugar a luzes de neon e designer cartunesco, numa franca homenagem ao seriado dos anos 1960. Apesar de não agradar a crítica, o filme conseguiu faturamento significativamente maior que o seu antecessor.
Empolgada por um delírio coletivo que fez Batman Forever transformar um orçamento de US$ 100 milhões numa bilheteria de US$ 336,6 milhões, a Warner deu sinal verde à Schumacher e uma verba de US$ 125 milhões para Batman & Robin. No entanto, para a sequência, mais uma troca de protagonista. Val Kilmer – que tinha assumido a alcunha do “homem morcego” – ainda colhendo os frutos por “Top Gun” e “Fogo contra fogo” -, não aceitou voltar para o quarto longa. Com isso, em quatro filmes, três atores diferentes deram vida à Bruce Wayne.
Quem assumiu a capa foi George Clooney que na época ainda estava migrando da TV e dando os primeiros passos em Hollywood. Junto ao galã, Arnold Schwarzenegger (Mr. Freeze) Uma Thurman (Hera Venenosa) e Alicia Silverstone (Batgirl) se unem a Chris O’Donnell – que continuou como Robin – para marcar para sempre o cinema de super-heróis.
Galhofa
Esqueça todos os conceitos de física e tente aumentar a suspensão da descrença para assistir o filme e, ainda assim, se surpreender com uma alegoria carnavalesca no pior sentido. O longa reúne todos os trocadilhos possíveis – cortesia principalmente do Mr. Freeze -, diálogos capazes de fazer chorar e claro, os inesquecíveis bat-mamilos.
Não tente encontrar sentido nesta obra porque você não vai conseguir. A intenção clara de Joel Schumacher era prestar homenagem a série da década de 1960, mas a película passa longe de ter o mesmo carisma daquela produção. Temos aqui uma montagem terrível, fazendo o filme parecer uma colcha de retalhos. Além disso, o jogo de luzes e a paleta de cores parecem deslocadas e dão uma impressão de desconforto de forma não-intencional.
O longa ainda é recheado com subtramas tediosas, como por exemplo, a rebeldia da Bárbara Gor… ops, Wilson – sim, mudaram o sobrenome da Batgirl -, ou o drama sem peso da doença de Alfred (Michael Gough). Os bat-mamilos ganharam a companhia dos bat-patins e é claro, do bat-cartão de crédito. Eu não vou nem entrar no mérito da transformação de Bane (Jeep Swenson) em um mero servo da Hera sem qualquer indício de inteligência para não passar raiva.
O elenco também não ajudava o roteiro – que já era deplorável – e, todo mundo ali parecia apenas caricato. Motivos não faltam para tanto “entusiasmo”. As frases de efeito dos vilões, assim como as dos mocinhos eram torturantes e as risadas que os diálogos conseguem arrancar, são de desespero. Outra característica deste filme é que todas as cenas são narradas exaustivamente pelos personagens.
Overdose de plot twists
M. Night Shyamalan é conhecido com o rei dos plot twists, mas talvez esse título devesse ser do roteirista Akiva Goldsman que teve o dom de acrescentar uma reviravolta a cada cinco cenas de Batman & Robin. E todos eles são absurdos ou óbvios. Pode escolher: a traição de Hera Venenosa; a descoberta da bat-caverna por Bárbara; Alfred sofrer da mesma doença que a esposa de Freeze; a transformação de Bárbara em Batgirl…
Talvez o maior e mais subestimado plot twist seja quando Dick Grayson sucumbe aos encantos de Hera e a beija. A vilã acha que consegue envenenar o herói, mas ele tem uma carta nas mangas, ou melhor, nos lábios. Robin estava usando lábios de borracha, portanto não foi afetado pela toxina de Hera.
Revolução no cinema de quadrinhos
Para ser honesta, o filme teve grande peso nos passos seguintes das principais editoras no cinema. Batman & Robin, assim como a direção de Schumacher, se tornou uma lição do que não fazer em um filme.
Após o desastre, nenhum filme de herói quer ser o novo “Batman & Robin”, por isso ele impactou diretamente na mudança de visão a respeito das adaptações de quadrinhos. A esta altura, os filmes deste gênero já estavam estigmatizados. Portanto, a próxima investida no gênero foi feita com parcimônia e diversos aspectos característicos dos quadrinhos foram abandonados. Como resultado, tivemos X-Men com a equipe trocando os trajes coloridos por couro preto, por exemplo.
Por isso e por outros motivos, Batman & Robin é uma inspiração até hoje para o cinema e segue como guia mesmo após mais de vinte anos de sua estreia. Querendo ou não se os filmes de quadrinhos são assim hoje é por causa de Schumacher.