Longa-metragem “Socrates” é selecionado para Mostra de São Paulo

Premiado no festival de Woodstock, filme conta com a produção de jovens das Oficinas Querô e Christian Malheiros em “Socrates”, filme que” vem percorrendo o circuito internacional de festivais.

O longa-metragem “Sócrates”, que vem representando o Brasil em festivais internacionais (leia abaixo), é um dos destaques da 42ª Mostra Internacional de São Paulo na categoria Competição de Novos Diretores. A primeira exibição acontece já neste sábado, 20, no Shopping Frei Caneca, às 20 horas. Com produção do Instituto Querô e Querô Filmes, “Socrates” é dirigido por Alex Moratto e chega aos cinemas  com distribuição da O2 Play. Veja o trailer:

O longa-metragem de ficção relata a trajetória de um jovem negro, homossexual de 15 anos, morador da periferia da Baixada Santista, litoral de São Paulo, que precisa sobreviver por conta própria após a morte de sua mãe. “Em 2009, fui voluntário no Instituto Querô no Brasil. A dedicação desses jovens para buscar uma vida melhor, independente de suas realidades, me surpreendeu e me influenciou a fazer filmes sobre essas pessoas, moradores de comunidades, raramente representadas no audiovisual. “Socrates” é um filme que representa essas comunidades e os brasileiros que me tornaram o cineasta que sou hoje. Além de falar dessas pessoas, o filme também é muito pessoal para mim e  se passa num contexto atual do Brasil, contando uma história universal sobre a coragem para viver”, explica Moratto.

Tales Ordakji e Christian Malheiros em cena do longa que estreia sábado na Mostra.

“Socrates” é uma produção de jovens de 16 a 20 anos das Oficinas Querô, projeto social idealizado pelo Instituto Querô há 12 anos, Organização Não Governamental de Santos que utiliza a ferramenta do audiovisual para capacitar jovens de baixa renda e transformar suas realidades por meio da sétima arte.

No longa Christian Malheiros interpreta Socrates. O ator, formado pela
Escola de Artes Cênicas de Santos (SP) foi escolhido entre centenas de candidatos para o papel principal. Em 2018, Malheiros estreou em teatro em São Paulo no FEDRA de Jean Racine, dirigido por Roberto Alvim.

Tales Ordakji que interpreta Maicon é formado em teatro pelo
SENAC-Santos e pela Escola de Artes Cênicas de Santos. Também faz parte do TEP, o grupo de teatro mais antigo de Santos, que tem como foco o teatro experimental. Suas apresentações teatrais foram selecionadas para competir em vários festivais brasileiros, conquistando diversos prêmios e indicações.

“Socrates” marca a estreia dos dois atores no cinema.

Festivais

Desde o dia 20 de setembro, quando estreou mundialmente no LA Film Festival, em Los Angeles (Estados Unidos), o longa já foi selecionado para o Festival Du Nouveau Cinéma, em Montreal (Canadá) e para o Woodstock Film Festival (Estados Unidos), onde levou o prêmio “Ultra Indie Award”, entregue para filmes realizados com menos de 200 mil dólares. Em novembro “Socrates” será exibido no Festival do Rio e também no Thessaloniki Internacional Film Festival, na Grécia, principal vitrine para cineastas no sudeste europeu.

Além da estreia no dia 20, “Socrates” será exibido nos dias 21, às 16h10 na Cinesala em Pinheiros e na sexta-feira, 26 de outubro, às 17 horas, na Cinemateca, sala BNDES na Vila Clementino. Informações completas sobre ingressos em http://42.mostra.org/br/filme/9476-SOCRATES

Cena de “Socrates”, selecionado para a Mostra de São Paulo e do Festival do Rio.

Sobre o filme

Com roteiro e direção do brasileiro-americano Alex Moratto, jovem cineasta conhecido por seus curtas-metragens premiados em festivais internacionais, a ideia para o filme surgiu após se voluntariar no Instituto Querô em 2009. “Nasci nos Estados Unidos, de mãe brasileira e pai americano. Sempre tive muito contato com o Brasil e minha família em São Paulo. Em 2009, me voluntariei nas Oficinas Querô e me surpreendi com a trajetória de vida e os valores dos moradores das comunidades periféricas locais”, relembra o diretor.

Em 2016, Moratto voltou ao Brasil com 20 mil dólares no bolso e um roteiro de um filme, com a proposta de produzir junto com os jovens do projeto o seu primeiro longa-metragem, e também o primeiro do Instituto Querô, em comemoração aos 10 anos das Oficinas Querô. Com poucos recursos financeiros para a produção, os 45 jovens que estavam em capacitação, entre 16 e 20 anos, além da oportunidade de assumirem as diversas funções no set de filmagem, seguiram na captação direta de recursos, alimentação e parceiras que topassem embarcar nesse sonho.

Foram mais de 500 pessoas que participaram dos testes de elenco, (produzidos pela jovem Mayara Batista – 16 anos na época) e todos da Baixada Santista, com o intuito de representar o Litoral Sul de São Paulo no cinema, desde os atores, os cenários e profissionais do set de filmagem. Entre esses profissionais, jovens capacitados em diferentes turmas das Oficinas Querô.

“Lembro até hoje do desafio que foi participar pela primeira vez da produção de um longa-metragem. Havia acabado de passar por uma experiência como produtora de elenco junto com a minha turma das Oficinas Querô, e pude estender esse aprendizado na produção do “Sócrates”, liderando os testes de elenco na região. Sem dúvida isso só me fortaleceu enquanto profissional e até me fez conquistar uma vaga de trabalho no próprio Instituto Querô, como assistente de produção, onde estou até hoje”, relembra a jovem Mayara Batista, atualmente com 18 anos.

Gustavo Sandoval, formado na turma de 2016, foi Assistente de Fotografia e relembra a importância do projeto em sua formação. “Não esperava participar da produção de um longa já no meu segundo ano de Oficinas Querô. Sem dúvida, fazer parte do “Sócrates” ajudou na construção da minha carreira profissional. Hoje curso faculdade de Cinema e também fui contratado pelo próprio Instituto Querô como parte da equipe de arte-educadores”, comenta o jovem que entrou no projeto em 2015 com 18 anos, e atualmente está inserido no mundo do trabalho por meio do projeto Querô na Escola, ministrando oficinas de cinema em escolas públicas.

Saymon Souza, de 20 anos, também estava em capacitação pelo projeto no ano de gravações do longa-metragem. “Como a equipe era pequena para um set de longa, acabei ajudando em diferentes áreas como assistência de produção, locação, elenco e direção. Foi uma experiência importante pra mim pois consegui bagagem para ingressar na profissão”, comenta o jovem que é natural  do Maranhão e atualmente produtor audiovisual, realizando oficinas de cinema com celular, projeto que nasceu junto com a sua turma das Oficinas Querô em 2016, após realizarem no projeto uma série documental toda filmada com smartphones.

Para a coordenadora do Instituto Querô, Tammy Weiss, estrear mundialmente em um festival dessa importância só confirma o grande potencial da juventude no cinema brasileiro, além da transformação social que projetos como o Querô podem realizar. “Nosso trabalho enquanto Instituição é apresentar aos jovens as infinitas possibilidades que o audiovisual pode trazer a eles, de enxergarem seus talentos e chegarem a diferentes lugares por meio do cinema. Temos 58 prêmios em festivais, todos os filmes produzidos pelos jovens do projeto que, na maioria das vezes, viajam a estes festivais representando o Instituto Querô, o filme e principalmente a juventude! Não imaginávamos que um longa-metragem de baixo orçamento chegaria tão longe e devemos essa projeção ao talento dos nossos meninos! Sócrates representa não só o trabalho deles, mas também a produção audiovisual do nosso país e os talentos da nossa região”, comenta a coordenadora.

Foram mais de 30 dias de filmagens, entre 2016 e 2017 e após as gravações, o filme foi contemplado com o Edital de Finalização de Longa-Metragem do ProAC – Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo, contando com a O2 Pós e Effects Filmes na etapa de finalização.