Encanto | Crítica

Charmoso mas falta magia

Análise sobre o filme “Encanto”, da Walt Disney Studios Motion Pictures aqui no site Cebola Verde.

Confira a ficha técnica da trama:

Nome: Encanto

Estreia:  24 de novembro de 2021 – 109 minutos

Direção: Jared Bush, Byron Howard

Elenco: Stephanie Beatriz, Maluma, María Cecilia Botero, Diane Guerrero, John Leguizamo, Mauro Castillo, Jessica Darrow

Distribuidora: Walt Disney Studios Motion Pictures

Gênero: Animação, Musical, Comédia


Nos comentários iniciais, gostaria de explicar alguns pontos. Embora seja uma animação, minha resenha contará com os mesmos critérios usados em quaisquer outros formatos cinematográficos visando respeitá-lo como filme, e não tentar diminuir animações como algo infantil. Para resenhas de um público especializado em comentar animações, posso deixar algumas indicações de colegas incríveis que entendem mais desse universo, assim como alguns vídeos específicos que podem fomentar ainda mais esse debate. Por último, mas igualmente importante, gostaria de frisar que vi esse filme na dublagem brasileira e por isso não comentarei sobre o elenco, seja o original ou o nacional, até porque o filme possuía grandes problemas de mixagem de som, tornando quase que incompreendida algumas passagens do filme e até mesmo a distinção da voz de algumas personagens, esses assuntos certamente também são tratados nas resenhas específicas do nicho de animação. 

 

A expectativa com Encanto era grande desde os primeiros vazamentos do filme, que sugeriram que ele se passaria no Brasil, e quando os primeiros detalhes do filme foram divulgados deixaram grande parte do público decepcionado ao ver saber que ainda não iria ser dessa vez que veríamos uma grande história da Disney ambientada no nosso país ainda que a relação entre a empresa e o público brasileiro seja bem vista seja pelos números de bilheteria e engajamento nas redes sociais, mas embora nosso querido Zé Carioca não seja o foco, o filme ainda sim diz muito sobre o Brasil. 

 

Encanto conta a história dos Madrigal, uma família extraordinária que vive escondida nas montanhas da Colômbia, em uma casa mágica, em uma cidade vibrante, em um lugar maravilhoso conhecido como um Encanto. A magia deste Encanto abençoou todos os integrantes da família com um dom único. Todos, exceto Mirabel. Mas, quando ela descobre que a magia que cerca o Encanto está em perigo, Mirabel decide que ela, a única Madrigal sem poderes mágicos, pode ser a última esperança de sua família excepcional ou a responsável pela sua ruína. 

 

A decisão de ambientar a trama para a Colômbia parecia inicialmente uma conveniência para que a grande estrela do filme Lin-Manuel Miranda, a mente responsável por grandes fenômenos como Hamilton e Moana, pudesse compor em espanhol como podemos ver na adaptação recente de sua peça Em Um Bairro de Nova Iorque (In The Heights). Mesmo que desde dos materiais promocionais possamos ver parte da fauna amazônica como vestígios de quando o projeto era ambientado em terras tupiniquins, faz sentido a Colômbia, não apenas pelo seu idioma espanhol que abrange uma parte maior da América Latina, mas pelas claras referências a outro grande nome da cultura latina: Gabriel Garcia Marquez.

 

A parte técnica dessa animação dispensa comentários, como sempre, tudo é lindo e de encher os olhos. Tem cores vivas e cada personagem tem uma personalidade estética singular, mágica e que retrata muito bem todos os aspectos internos e externos de um. A cidade é linda, tudo tem carisma e ao mesmo tempo que parece um espaço mágico imaculado, nos lembra nos detalhes da nossa própria cultura. Embora seja em outro país e em uma cidade fictícia, há muito para se identificar quando o filme incorpora traços da identidade latina, desde as vestimentas até as superstições. Os membros dessa família certamente lembram pessoas das nossas vidas, e o grande brilho do filme está justamente nisso. Mirabel retrata bem as questões identitárias tanto dos indivíduos quanto da identidade de um povo, de uma comunidade ou de um grupo familiar e o filme faz muito bem em colocá-la como eixo da trama. Temos outros personagens até mais carismáticos, como a própria casa que possui uma personalidade forte e até a figura do tio Bruno ( sério, o que a Disney tem contra os Brunos?). Grande parte do apelo para gostarmos mais de um ou outro personagem tem a ver com a grande aposta do filme: os números musicais. 

 

As músicas fazem um trabalho perfeito ao estabelecer através dos diferentes arranjos e melodias uma personalidade distinta para cada membro dessa enorme família, e tudo isso sem ficar cansativo uma vez que os números são amarrados uns aos outros com destreza e usa de forma inteligente a mescla de algumas pequenas reprises trazendo tudo que há de melhor em contar essa história em um formato musical. Mas embora essas características sejam importantes, parece que faltou algo que fizesse com que essa história se justificasse ser contada como musical, uma magia nas canções que não vejo faltar nos filmes da Disney e certamente não esperava sentir falta nas canções de Lin-Manuel Miranda. Mesmo sendo grande fã do compositor, eu não saí do filme com uma música ecoando na cabeça durante semanas, embora cada canção cumpra perfeitamente sua função narrativa parece que faltou inspiração para que elas transcendessem o filme em si, eu tinha certeza que assim como todos os filmes do compositor e do estúdio eu correria para ouvir as canções em looping até que todas estivessem guardadas de cor. Isso não tira o mérito de nada nesse filme, mas era grande a expectativa que todos tinham e que na minha opinião foi onde justamente o filme deixou um pouco a desejar e me fez questionar se não faria mais sentido contar essa bela história sem música, assim como Raya e o Último Dragão. 

 

No geral, Encanto acerta onde era mais fácil errar: na trama, que embora seja simples é muito bem explorada mesmo que deixem perguntas propositais mas sem nunca deixar confuso. E também nos personagens, que contém carisma e apelos particulares tornando o que poderia ser só mais uma história em um filme lindo que mescla bem elementos diferentes da cultura latina, que e remeteram diversas vezes ao clássico Cem Anos de Solidão não apenas nos arquétipos de certos personagens como em retratar certas feridas da história latina que são atemporais, assim como o filme, e que por falta de mais detalhes uma vez que a trama foca nas dinâmicas familiares, conseguimos relacionar a vários capítulos até mesmo da história brasileira. 

Encanto
Sinopse
Encanto é a nova animação da Disney situada na Colômbia, sobre a extraordinária família Madrigal, que vive escondida em uma região montanhosa isolada, conhecido como Encanto. A magia da região abençoou todos os meninos e meninas membros da família com poderes mágicos, desde superforça até o dom da cura. Mirabel é a única que não tem um dom mágico. Mas, quando descobre que a magia que cerca o Encanto está em perigo, ela decide que pode ser a última esperança de sua família excepcional.