Análise sobre o filme “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante”, da Paramount Pictures (a convite da própria), aqui no site Cebola Verde.
Confira a ficha técnica da trama:
Nome: As Tartarugas Ninja: Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem)
Estreia: 31 de agosto de 2023 – 1h 39min
Direção: Jeff Rowe, Kyler Spears
Elenco: Hannibal Buress, Rose Byrne, Nicolas Cantu, Seth Rogen
Distribuidora: Paramount Pictures
Gênero: Animação, Ação, Aventura
O lançamento do novo filme das Tartarugas Ninjas gerou uma expectativa considerável entre os fãs da franquia desde que saiu o primeiro trailer, e felizmente, chegou como uma lufada de ar fresco, trazendo consigo um estilo visual que merece ser aplaudido. Esta nova abordagem das tartarugas mutantes consegue manter a essência do que tornou os personagens tão populares, ao mesmo tempo em que incorpora elementos modernos que atraem tanto os antigos quanto os novos fãs.
O impacto visual e narrativo de “Homem-Aranha no Aranhaverso” é inegável, e é natural que sua influência seja sentida em outras produções animadas que surgiram posteriormente. No contexto da nova animação das Tartarugas Ninjas, é possível observar algumas influências que “Homem-Aranha no Aranhaverso” pode ter tido no estilo de animação do filme, embora com suas próprias nuances. Uma das maiores conquistas da nova animação é o estilo visual inovador que a equipe de animação escolheu adotar. A forma como a luz é desenhada, como alguns personagens parecem modelados em massinha e como todas as formas, até as mais simples como um círculo, são tracejadas de forma errante dá um aspecto muito especial para cenas que seriam triviais em um estilo mais genérico. As cenas de luta são coreografadas de forma criativa, utilizando os diferentes estilos de luta de cada tartaruga de maneira inteligente, resultando em confrontos que mantêm os espectadores ansiosos por mais.
As referências são um aspecto fundamental em muitas produções contemporâneas, e em As Tartarugas Ninjas: Caos Mutante não é exceção. No entanto, o que se destaca é a maneira inteligente e estratégica como essas referências foram incorporadas ao roteiro, visando principalmente atingir o público na faixa etária dos 20 aos 30 anos, que cresceu com a franquia original das tartarugas e agora busca uma dose saudável de nostalgia. O filme constrói uma ponte entre diferentes gerações de fãs. Aqueles que cresceram com as Tartarugas Ninjas têm a oportunidade de compartilhar essa experiência com uma nova geração de espectadores, estabelecendo uma conexão que atravessa o tempo e as idades, uma vez que, embora essas referências possam ser particularmente significativas para os fãs mais antigos, elas não excluem os espectadores mais jovens, incluindo memes e referências específicas para esse público também. Ao incorporar elementos do passado das tartarugas de maneira orgânica, o filme também pode despertar o interesse dos novos fãs, incentivando-os a explorar o rico legado da franquia. Um aspecto particularmente interessante é a inclusão de músicas que remetem à época em que as Tartarugas Ninjas ganharam grande destaque, nas décadas de 80 e 90. Essas faixas adicionam uma camada extra de imersão, além de também serem utilizadas de forma estratégica para criar um ritmo envolvente na narrativa.
Os coadjuvantes desempenham um papel crucial em enriquecer a narrativa e a experiência do público, aqui o destaque fica com a April O’Neil e o Mestre Splinter, que desempenham papéis importantes não apenas na trama, mas também na construção do mundo e no desenvolvimento dos personagens principais. April, como a corajosa repórter e aliada das tartarugas, adiciona uma dimensão humana à narrativa. Sua relação com as tartarugas, especialmente com Leonardo, frequentemente traz à tona elementos de confiança, amizade e determinação. Além disso, April pode atuar como uma ponte entre o público e o mundo das tartarugas, oferecendo uma perspectiva externa que ajuda a contextualizar a situação. Seu papel como alguém que não apenas documenta as aventuras, mas também as vivencia em primeira mão, torna-a uma personagem cativante e envolvente. Vou me abster de comentar qualquer polêmica em relação ao visual da personagem nesse filme, quem acompanha a franquia de verdade sabe que April já nos foi introduzida de diversas formas, apenas vão de coração aberto para a nova versão da personagem. Tanto April, quanto as tartarugas mutantes compartilham um importante elemento de desenvolvimento em suas personalidades na nova animação das Tartarugas Ninjas: a jornada de crescimento e os conflitos de aceitação que são intrínsecos à adolescência. Essa abordagem acrescenta camadas adicionais à narrativa, tornando os personagens mais humanos e identificáveis para o público. Os conflitos de aceitação e identidade são fios condutores importantes no filme.
Mestre Splinter, por sua vez, é uma figura paterna e sábia que orienta e treina as tartarugas em suas jornadas como heróis. Sua presença é essencial para o desenvolvimento das tartarugas, fornecendo conselhos, ensinamentos e momentos de reflexão. A relação de Mestre Splinter com as tartarugas é um elemento central que contribui para a profundidade emocional da narrativa. Seu conhecimento e sabedoria frequentemente contrastam com a juventude e a impulsividade das tartarugas, criando conflitos e oportunidades de crescimento para os personagens.
É interessante como os mesmo conflitos que perpassam as tartarugas, que é explorado de maneira cativante, também se estendem aos coadjuvantes, como April e o Mestre Splinter, mas acabam se conectando diretamente com um dos núcleos antagonistas do filme. No entanto, esses paralelos traçados entre o principal vilão, em alguns momentos, parecem um tanto rasos e pouco sutis, resultando em um elemento da trama que poderia ter sido melhor desenvolvido e acaba por diminuir o impacto da narrativa. A história não consegue manter um ritmo consistente e muitas vezes parece se arrastar em diálogos repetitivos, prejudicando o desenvolvimento dos personagens e o aprofundamento da trama. A falta de coerência e a ausência de um objetivo claro para as tartarugas e seus inimigos acabam por minar o impacto emocional que deveria ser central à narrativa.
Outra área que merece atenção crítica nessa nova abordagem é o desenvolvimento da personalidade das próprias tartarugas. Embora o filme tenha acertado em muitos aspectos, ele parece ter deixado a desejar na exploração aprofundada das individualidades das tartarugas mutantes. As personalidades das tartarugas parecem desbotadas, perdendo aquele toque característico de cada uma, que era um dos pontos fortes da série original. Embora haja uma tentativa de destacar as diferenças entre eles, o filme não mergulha o suficiente nos conflitos internos e nas nuances que tornam cada tartaruga única. As características que historicamente definiram Leonardo, Michelangelo, Donatello e Raphael foram, em parte, deixadas de lado em favor da trama principal, e isso acaba resultando em personagens que podem parecer mais unidimensionais do que deveriam. É importante ressaltar que o equilíbrio entre a ação e o desenvolvimento de personagem pode ser desafiador, mas é essencial para uma narrativa envolvente e impactante. As tartarugas são os pilares da franquia e, sem um investimento suficiente em suas histórias individuais, a experiência perde a oportunidade de evocar empatia e conexão emocional com o público.
Apesar dessa lacuna na exploração das personalidades das tartarugas, é encorajador ver que a nova animação acerta em muitos outros aspectos. O filme oferece momentos de ação empolgante, constrói um mundo visualmente deslumbrante e constrói uma trama que, embora tenha falhas, ainda consegue cativar a atenção. No entanto, com um desenvolvimento mais profundo das personalidades das tartarugas, a narrativa poderia ter atingido um nível ainda mais elevado de envolvimento emocional e identificação por parte do público.
Em conclusão, a nova animação das Tartarugas Ninjas tem seus méritos, mas a falta de um desenvolvimento mais robusto das personalidades das tartarugas é uma área que merece consideração crítica. A franquia se destaca por seus personagens cativantes e multidimensionais, e é fundamental que esse aspecto seja tratado com a devida importância para garantir uma experiência verdadeiramente memorável e impactante para os espectadores. Os núcleos dos vilões deixam lacunas intencionais na trama, deixando abertura para continuações (Sim, tem cena pós-créditos)