Uma das influenciadoras de conteúdo sáfico com maior número de acessos, Anna Júlia concedeu uma entrevista exclusiva para o Cebola Verde para falar sobre o entretenimento LGBTQIAPN+ e o crescimento desses conteúdos. Nesse dia do Orgulho, é necessário continuar estabelecendo relações de memória sobre essa data tão importante do calendário mundial, um dia de luta e resistência.
Júlia (Cebola Verde): Agradeço muito por ter aceitado esse convite e espero que você goste! Para começar não poderia ser outra pergunta, queria saber um pouco mais sobre o seu canal como veio a ideia de criar o seu canal, e também com é que veio a ideia, na verdade, de fazer pra esse público, né? Para público LGBT em geral?
Anna Bagunceira: Então, da ideia de criar um canal eu não sei da onde surgiu, um dia bateu um tilte e eu resolvi abrir um canal. No início eu queria só falar sobre coisas que eu gostava, tipo séries, mas logo que eu lancei o canal eu ainda tinha um certo receio de falar sobre a minha sexualidade. Mas quando eu assistia os vídeos eu pensava: “Meu Deus do Céu, para que eu estou dentro de um armário de vidro enquanto eu gravo os vídeos”. O YouTube me ajudou muito, não só na parte de compartilhar minhas vontades e meus amores para o público, mas foi a primeira vez que eu resolvi chutar o balde de uma vez e falar abertamente da minha sexualidade. Resolvi trazer isso de uma forma que várias pessoas se identificassem, porque existia muita carência dessa identificação. Na época eu assistia muito Kéfera, Depois das Onze e eu queria muito que tivesse alguém nessa vibe, de zoar e falar sobre séries e filmes, de crushes e compartilhar coisas da vida, na época a Kéfera não era assumida também, tudo isso seguia o padrão heteronormativo e a gente não estava inserida nessas vivências. Quando eu iniciei o canal, resolvi chutar o balde de vez e compartilhar minhas vivências para outras pessoas se identificarem assim como eu, como lésbica, me identificava com canais na época que traziam vivencias heterossexuais, queria que as pessoas se identificassem com as minhas vivencias lésbicas independente da sexualidade, não só para ajudar pessoas se assumirem e se aceitarem, mas para mostrar que temos os mesmos dilemas da vida, temos mesmos celebrities crushes, a gente sofre por ex… Então assim, quis trazer essas vivências e o YouTube me ajudou a me aceitar cada vez mais.
Júlia (Cebola Verde): Depois de um tempo, seu canal hoje tem mais de 500 mil inscritos, você vira basicamente uma explosão de representatividade para muitas pessoas. Como você se sente sendo uma inspiração para se assumirem e conversarem com seus pais?
Anna Bagunceira: é muito louco isso porque eu não tenho dimensão, as pessoas falam mas eu ainda não tenho dimensão de como é isso, porque quando eu falo para os bagunceiros assim, eles mudaram a minha vida, tanto que eu ter começado a falar da minha sexualidade foi pela comunidade ter me abraçado e eu senti a vontade de compartilhar isso. Mas é muito louco porque eu não tenho dimensão sobre isso, as pessoas me mandam mensagem e eu fico: “Meu Deus”. Mas é uma coisa que me emociona muito, existe uma troca muito linda. As pessoas me mandam mensagem falando: “Você me ajudou a me assumir”, e eu respondo: “E você me ajudou a ser quem eu sou nos últimos anos”. Mas eu acho que eu preciso encontrar com essas pessoas pessoalmente pra entender como é, até porque eu também moro em uma cidade pequena, não tenho muita ideia das coisas fora da tela. Mas é uma responsabilidade muito grande, então fico muito feliz em terem confiado em mim, e é uma troca muito sincera e me sinto confortável em ser essa pessoa porque eles abrem os braços para me receber dessa forma.
Júlia (Cebola Verde): Os produtos sáficos vem aumentando, sentimos que tem muito sendo cancelados. O que você acha sobre isso?
Anna Bagunceira: A impressão que eu tenho é que algumas plataformas lançam algumas coisas para preencher a cota, para dizer somos LGBT friendly. Mas a Netflix é um exemplo que eu vejo que eles apenas querem preencher a cota e eles não divulgam, e acabam ficando na bolha, poucas pessoas tem acesso, até os vídeos tem dificuldade de acesso porque a plataforma não está divulgando então os algoritmos não empurra para mais pessoas, e os vídeos acabam flopando porque ninguém está falando sobre aquilo, e vivemos num mundo capitalista e precisa ter pessoas assistindo e compartilhando, mas as próprias plataformas não fazem isso, vejo que isso acontece muito.
Júlia (Cebola Verde): Por que você acha que Stupid Wife e GAP virou um sucesso? Você acha que tem relação por ser algo mais livre e não ser mediada por uma grande plataforma?
Anna Bagunceira: Acho que são duas webseries bem diferentes. Uma delas você tem um público de fanfic e também a história da Nathália Sodré, um roteiro fora da bolha que se identificam. Se fosse só mais uma história de uma menina se descobrindo, iria ficar na bolha mas pela história ser algo que dá pra fazer em qualquer tipo de casal, de gênero e sexualidade, isso fez sair muito da bolha apesar de ser muito o público da fanfic no inicio, as pessoas se identificam independente de sexualidade, e populariza muito. E GAP eu não consigo entender muito o que aconteceu, porque é muito choque cultural, é bem diferente de tudo o que eu assisti, acho que o que pega é o clichê romântico tipo novela das seis, é muito comedia romântica que vai ter os momentos sensuais mas continua sendo uma comedia romântica. Isso que conquistou a galera, e claro as atrizes.
Júlia (Cebola Verde): Pra terminar, queria fazer um bate bola. Vou falar uma palavra e você devolve com outra. Família.
Anna Bagunceira: Traumas. (risos)
Júlia (Cebola Verde): Amor
Anna Bagunceira: Esther
Júlia (Cebola Verde): Esther
Anna Bagunceira: Amor.
O Cebola Verde agradece mais uma vez o tempo disponibilizado para essa entrevista e deseja toda sorte e sucesso para Anna Júlia.
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