Desde a popularização da internet os cinéfilos tiveram acesso a incontáveis filmes e séries de todas as partes do mundo ao alcance de um clique. Porém, apesar da facilitação alcançada pela globalização, um inimigo foi fortalecido: o spoiler. Spoiler é quando alguém revela fatos sobre a trama de determinado livro, filme, série ou jogo. O termo faz referência à famosa expressão “estraga prazeres”. Algumas experiências são arruinadas por causa de spoilers e a popularização das informações indesejadas fez com que várias pessoas se denominassem “spoilerfóbicas”. Mas até onde vai o limite do spoiler?
Parece sem consenso o conceito de tempo e quais elementos podem ser considerados como spoilers. Por exemplo, há quem ache que, se a obra é baseada em fatos, não é spoiler revelar acontecimentos, já que teoricamente são de conhecimento geral. Mas há quem discorde. Uma série que gerou essa discussão foi “Narcos” principalmente em suas primeiras temporadas, quando a produção narrava a história do narcotraficante colombiano Pablo Escobar.
Outras pessoas acreditam ser aceitável relatar tudo o que é mostrado nos trailers. Por outro lado, essa teoria começa a perder força por causa de uma parcela crescente que tem fugido dos trailers justamente por acharem que a divulgação tem mostrado muito das obras. Um exemplo recente disso foi o trailer de “Batman vs Superman”, ao revelar a aparição de um vilão que poderia ser o plot twist (reviravolta) da trama.
Às vezes parece impossível fugir dos spoilers e em alguns casos é mesmo. Isso pode acontecer quando ele está embutido no título da obra. Como o exemplo de “Alien” (1979), que no Brasil ganhou um spoiler como complemento e se tornou “Alien – o 8º passageiro”. Outro caso é o filme “Mulholland Drive” (1999), que em seu título original remete ao nome de uma estrada da Califórnia, mas no Brasil virou “Cidade dos sonhos” ‒ outro spoiler.
Data de validade?
Outro questionamento é: até quanto tempo após o lançamento é considerado spoiler? Alguns consideram tranquilo comentar a trama dois meses após o lançamento da obra, alguns fixam em dois anos. Mas não seria uma lástima contar o plot twist de “Clube da Luta” (1999) para alguém que nunca o viu? Ou o de “Psicose” (1961)? “Cidadão Kane” (1941)? “Oldboy” (2005)? Todos esses filmes têm mais de uma década e continuam dependendo de um público não informado sobre a trama para funcionar.
Há quem diga que o “entretenimento não espera ninguém”, portanto, dois meses é o período de tolerância para o spoiler. Mas será que essas pessoas se dão conta de que a cultura no Brasil não é acessível? Mesmo um filme lançado há 80 anos pode ser uma descoberta, algo novo para alguém a cada dia. Portanto, é necessário ter consciência ao comentar sobre alguma obra com alguém que nunca a assistiu.
É para tanto?
É de se levar em consideração que algumas informações precisam ser reveladas pela trama, não por terceiros. Se uma revelação é impactante para a narrativa, o mais respeitoso é não espalhar para não estragar a experiência das outras pessoas. Mas isso não significa que tudo é nocivo. Lembro que na minha infância assistia “Dragon Ball Z”.
Tanto as promos quanto os títulos dos episódios eram um festival de spoilers e isso não estragava a experiência. Eram comuns episódios revelando a morte de um personagem importante, ou após um capítulo de luta que até então parecia equilibrada, o episódio seguinte revelar no nome quem foi derrotado ‒ Goku x Freeza que o diga.
Mas o que parece é que quanto mais o público se preocupa com algum spoiler, mais ele se populariza. É possível notar esses comportamentos de forma mais acentuada ‒ tanto de quem gosta de espalhar quanto de quem foge deles ‒ quando se tratam de fenômenos, como no caso de um filme muito esperado ou a temporada final de uma série.
Goste ou não, a cultura do spoiler já faz parte da sociedade. É praticamente impossível encontrar uma pessoa que nunca tenha recebido algum. Mas o spoiler se torna um problema quando a informação previamente revelada tira o impacto do acontecimento em tela. Saber diferenciar isso é ter bom senso, tanto para não ser um estraga prazeres quanto para não se tornar um reclamão que vê spoiler em qualquer informação, por mais trivial que seja.