Análise sobre o filme Pantera Negra da Marvel Studios (convite da Walt Disney Pictures), aqui no site Cebola Verde. Confira a ficha técnica da trama cinematográfica:
Nome: Pantera Negra (Black Panther)
Estreia: 15 de fevereiro de 2018 (Brasil) – 2h 14min
Direção: Ryan Coogler
Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Danai Gurira, Lupita Nyong’o, Letitia Wright, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Winston Duke, Andy Serkis
Distribuidora: Disney/Buena Vista
Depois do grande sucesso de bilheteria do terceiro filme de Capitão América (Guerra Civil), onde o mesmo apresentava novos heróis e a reunião deles em pró (ou contra) de uma ideologização política, chega enfim aos cinemas um marco histórico para os amantes de quadrinhos e negros, Pantera Negra. Entretanto, você sabe quem é o Rei T’Challa de Wakanda e tudo o que está por trás de tal história em quadrinhos?
O personagem foi criado em julho de 1966 pelo nosso fantástico Stan Lee e ilustrado pelo mito Jack Kirby, aparecendo pela primeira vez em Quarteto Fantástico na edição 52. Isso foi um marco, pois o Pantera Negra foi o primeiro personagem super-herói negro africano das histórias em quadrinhos, que mais tarde acarretara em várias outras possibilidades de personagens, como por exemplo, o Falcão (companheiro do incrível Capitão América), Luke Cage (1972) e Jon Stewart (Lanterna Verde) da editoria rival. E claro, o impacto que naquela década proporcionou foi gigantesco por todo o contexto histórico americano, que também poderá acontecer a partir do dia 15 de fevereiro de 2018.
A trama cinematográfica não precisa de cotas para falarmos bem ou algo do gênero, porque seu roteiro bem coeso e sólido fazem a Marvel ter mais um filme bem construído. Estamos carecas de saber que todo filme solo da Marvel faz sucesso, e se você curtiu Capitão América: Soldado Invernal, irá vir ao seu agrado. Não é uma cópia de Capitão 2 (considerado por muitos o melhor filme da marca Marvel), mas com uma direção bem trabalhada pelo diretor Ryan Coogler – que fizera Creed: Nascido para Lutar -, tem de ser algo ao nível. E Coogler insistiu em trazer colaboradores de seus filmes anteriores para colocar seu próprio estilo no filme e diferenciá-lo das outras produções da Marvel. Entre os integrantes desse time remanescente estão Rachel Morrison (diretora de fotografia), Hannah Beachler (designer de produção) e Ludwig Göransson (compositor).
A direção de arte brinca bastante ao longo do filme com cenários muito bem produzidos, mesmo que seja em chroma key. Wakanda, por si só, é retratada de modo excelente, não tem o que reclamar da fotografia, as devoções de cada tribo e o motivo dela estar ali por séculos sem a invasão dos “homens brancos”. Já que o Vibranium é a principal matéria-prima e a mais poderosa, Coogler conseguiu extrair ao máximo informações da fonte de energia e convencer ao telespectador que aquilo é real. Em adição a isso tudo, a história que caracteriza o Pantera Negra não poderia ser melhor que a criada no filme; é simples, coesa e objetiva. Mesmo que você nunca tenha ouvido falar de Wakanda, irá aprender de modo eficiente e rápido. Outra coisa que pode ser atribuída ao filme é que você não necessariamente precisa ver os outros para entender, porém, caso você já conheça todos os acontecimentos anteriores será de supra importância ou melhor experiência. O filme ainda está na fase 3.
A parte técnica também não deixa a peteca cair, pelo contrário, ela enriquece o filme de modo adorável. As cenas de lutas são bem entregues, muitas com características propriamente africanas, com uma trilha sonora local que acompanha cada personagem, não é marcante, mas há clássicos. Vale ressaltar que algumas partes de ação tem muito do que foi Creed em ter a visão contínua, deixando a cena muito mais dramática e rápida – o que nunca, até então, foi sido feito em um filme Marvel, ou seja, tem muito o dedo do Ryan Coogler. Uma edição quase impecável em todos os fatores. Entretanto, em certos momentos, o CGI não foi muito de encontro. Calma, não é algo que estrague a experiência do filme.
É muito difícil de ter um filme que construa bem todos os seus personagens, do protagonista até o coadjuvante, no entanto, Pantera Negra faz isso perante excelência. Não há um personagem que você queira a morte ou o sofrimento. Todos são bem desenvolvidos ao longo do filme e ainda há uma interação magnífica entre si, podendo ser das tribos ou do mundo externo. Vale ressaltar o elenco de peso que está embutido, a maior parte por atores de séries com cachês simbólicos. Chadwick Boseman faz o atual rei de Wakanda, T’Challa. O ator não tem tantas expressões, mas há uma explicação para isso, as inúmeras consequências de suas responsabilidades. Mesmo assim não deixa de ser algo horrível ou medíocre. Danai Gurira é a General/Líder das Dora Milajes (seguranças reais), Okoye, sempre muito carismática; pode ser séria, mas também tem um senso de humor inesperado e entrega um empoderamento para as mulheres inenarrável. Uma atuação impecável! Em seguida, Lupita Nyong’o interpretando o interesse romântico de T’Challa e uma espiã (Cão de Guarda) das Dora Milajes, Nakia. Também há emoção em suas expressões e convence tão bem quanto a Danai Gurira. Esse é o filme da Marvel que mais destacou as mulheres e seus atributos em meio ao caos; Demonstrando que não precisam de homem para serem protegidas. Martin Freeman, conhecido por grandes papéis, fez um doce Agente Ross. O alívio cômico proposital é de sua irmã, Shuri, interpretada pela Letitia Wright que se encaixa perfeitamente nisso tudo. E por fim, o grande Daniel Kaluuya, um confidente de T’Challa, que é o chefe de segurança da Tribo da Fronteira, servindo como a primeira linha de defesa da Wakanda.
Do outro lado da moeda, o vilão que mais apresentou perigo ou comoção foi apresentado neste filme até então, depois de Loki, claro. Michael B. Jordan faz o vilão principal chamado de Erik Killmonger, onde o mesmo tem motivos sólidos para ter raiva de tudo que passara ali. É uma voz de um lado diferente de Wakanda, que há cunho político e emocional. Pode ter certeza que você irá se comover por Erik. Sobre a atuação de Michal B. Jordan é até heresia não falar bem, pois o ator é impecável. Vale o mesmo para o temido Garra Sônica de Andy Serkis que utiliza CGI em tudo, mas bem menos que em seus outros papéis. Vale ressaltar que todos os personagens africanos no filme têm seu próprio sotaque, o que é muito bacana.
Diante dos fatos supracitados, Pantera Negra não é apenas um filme para mostrar negros no cinema ou tentar fazer um marco nas telonas, é muito mais que isso. Todos os seus personagens são bem desenvolvidos pelo diretor Ryan Coogler que extraiu o máximo de cada um. Suas edições propositais que elevaram o filme a outro patamar com uma fotografia e paleta de cores únicas, fazendo sua própria marca, até por suas cenas de lutas bem caracterizadas. Algo diferente da fórmula Marvel. O filme é especial e deve ser visto inúmeras vezes, trata Wakanda e todo um contexto histórico e político super interessante. Entretanto, não trata de nenhum cunho partidário. O que já ganha créditos. Citando a palavra “créditos”, o filme contém duas cenas pós-créditos.
Opinião: Não é forçar barra, queria que isso fosse comum – ter filmes de negros, porque há vários atores capazes – e não tratar como algo atípico. Para evitar sempre esse tipo de debate. Como foi em Mulher-Maravilha, as mulheres se sentindo representadas e vendo que também podem ser heroínas. Não serem taxadas de “companheiras” ou discriminadas por fazerem algo que gostem. Cada um faz o que lhe convém. Eu, um homem negro, vejo que também posso me ver representado e ser um super-herói. Não é questão de poder, pois há inúmeros super-heróis em nosso dia a dia e não vemos isso. Ser branco, preto, vermelho, azul ou qualquer outra cor, não faz você ser melhor ou pior que ninguém, pelo contrário, somos diferentes e por isso estamos aqui.