Canção integra o elogiado CD “Rota de Fuga”.
A cantora e compositora gaúcha Xana Gallo encara as incertezas de peito aberto no primeiro clipe de seu elogiado disco “Rota de Fuga”, lançado este ano no Dia Internacional da Mulher. O vídeo, gravado na zona portuária de sua cidade natal, Pelotas (RS), aposta na força do feminino, com direção das gêmeas Natalia e Camila Meggiato, à frente do coletivo Fitas Clipe, que conta apenas com mulheres, da filmagem à edição final. O resultado já está disponível no canal oficial de Xana Gallo no YouTube, com estreia exclusiva da renomada página Brasileiríssimos.
A cantora, que participou ativamente da concepção do clipe, aparece andando pelas ruas logo depois de uma – na verdade, várias – separações. O clipe é confessional, pois a artista passou por inúmeros relacionamentos até descobrir o real significado das palavras intuição e abuso.
A dúvida constante presente no clipe mostra a incerteza do que vem pela frente. O futuro aparece como uma incógnita, mas uma coisa é certa: o retorno da liberdade. “Se vou novamente amar, eu não sei / Só sei que pretendo ficar muito bem / Cada um sabe a paz e o amor que lhe faz bem”, canta Xana, que anteriormente lançara o webclipe desta canção.
A entrada e saída de diversas portas são uma imagem simbólica dos relacionamentos dos quais a cantora se libertou. No clipe, uma a uma das portas se fecham, enquanto Xana Gallo sai a andar sem olhar para trás.
“A dúvida e a insegurança do que seria o futuro me acompanharam por algum tempo logo depois que consegui sair de alguns dos relacionamentos abusivos. Muito porque o parceiro, principalmente no final do relacionamento, fazia com que eu me sentisse confusa e culpada por estar deixando para trás um homem ‘tão incrível’, que eu ‘não podia estar certa’. Mas preferi adentrar o incerto e andar comigo mesma a continuar numa realidade sem liberdade, sem conseguir ser eu mesma, embora não soubesse o que viria pela frente. Mas hoje, quase um ano e meio após o término de meu último relacionamento, tenho certeza que valeu muito a pena cada ‘não’ que eu disse e cada porta fechada sem olhar para trás”, reflete a artista.
Em seu segundo disco, Xana Gallo trilha a linha entre prisão e liberdade, submissão (mesmo que inconsciente) e empoderamento. Buscando inspiração na sua própria vida, ela mostra que é possível – e é preciso – seguir em frente, mesmo quando não se consegue ainda enxergar o que vem pela frente.
“Rota de Fuga” é o ponto de chegada de Xana Gallo em todo um processo de despertar pessoal a artístico. Atuando na música desde 2006, ela gravou seu disco de estreia, “Mulheres, Sons, Liberdade”, em 2014. O trabalho contou com a participação de artistas mulheres da cena gaúcha e buscou retratar aspectos da cultura negra de sua cidade, Pelotas. Em 2017, Xana se mudou para o Rio de Janeiro em busca de novos palcos e elaborou “Rota de Fuga” com produção musical de Eduardo Neves e uma banda composta pelo contrabaixo de André Vasconcellos, pianos de Adriano Souza e Danilo Andrade e bateria de Antonio Neves. O lançamento foi propositalmente no Dia Internacional da Mulher.
O álbum, que segue a cronologia de suas relações, aborda histórias de relacionamentos aparentemente normais, que ao longo do tempo revelaram-se nocivos e tiraram a liberdade da cantora. Inicialmente pareciam um conto de fadas, mas levaram à perda do convívio social e estresse pós-traumático após o fim da relação.
Olhando para o futuro, Xana Gallo prepara um novo EP, “Roda, Rodou”. Gravado no Estúdio Marini, de Kassin, pelo produtor Diogo Strausz (Alice Caymmi, Balako, Aymoreco), o compacto deixa para trás a dor e leva a força da mulher em primeiro plano.
O EP é só um dos lançamentos que virão da artista, que desenvolve também um projeto chamado “CompositorA”, onde cria canções em parceria com mulheres de diversas cidades. Elas lhe enviam seus manuscritos (poemas, versos soltos, histórias) por meio das redes sociais, alimentando a importância de as mulheres contarem, juntas, sua própria história.
Antes silenciada, Xana Gallo hoje canta mais alto que nunca.