#TBO Questão de tempo: o desejo de nunca mais voltar no tempo

Por Matheus Augusto

Foto: Reprodução/Universal Studios
Foto: Reprodução/Universal Studios

Por Matheus Augusto

Todos os gêneros possuem seus clichês. Ao longo da maioria das comédias-românticas esperamos o óbvio: um casal que se conhece, tem um boa química, enfrentam dificuldades ao longo do caminho, mas, no final, terminam juntos e felizes. Parece um bom modelo de filme e que, para muitas obras, foi um sucesso. O que esperar então de “Questão de Tempo”, onde o casal nem chega a ter um grande briga ou cogita se separar? Um desastre? Muito pelo contrário, ao fugir dessa fórmula, que pode, sim, ser bem trabalhada e buscar a trivialidade de um casal que tem sua dificuldades cotidianas, mas se ama, o filme acerta em cheio.  Confira também nossa resenha sobre “Titanic”“La la land”.

Amor às cegas

Logo na primeira metade do filme, Tim (Domhnall Gleeson) conhece Mary (Rachel McAdams), seu par romântico. Ambos possuem uma ótima química, em parte pelo bom roteiro e seus diálogos, em parte pela boa interpretação de ambos os atores. Cenas depois, após alguns obstáculos causados pela viagem no tempo, os dois começam a namorar. Cenas depois, estão noivos e a espera da primeira filha. Eles vivem uma vida feliz, sem o parceiro estar escondendo um grande mistério, uma traição ou qualquer outra situação que coloque o relacionamento em risco.

O filme foge da busca incansável do protagonista pelo amor de sua vida. Aqui, o relacionamento é um dos pontos de partidas da película, fugindo dos clássicos clichês, e é formado logo nos primeiros minutos.

Viagem no tempo

Outro ponto importante do filme é a possibilidade dos homens da família de Tim voltarem em situações passadas. Aqui reside talvez o principal problema de Questão de Tempo. As regras do jogo não são bem estabelecidas e, mesmo quando são, em alguns momentos, parecem ser desrespeitadas em prol da narrativa. Felizmente, as voltas no tempo, apesar de presentes, são utilizadas de forma leve, favorecendo a comédia.

Foto: Reprodução/Universal Studios
Foto: Reprodução/Universal Studios

Pelo lado positivo, a viagem no tempo, assim como o romance do casal, é apresentado logo no início do filme pelo pai de Tom (Bill Nighy). Poderíamos ter aqui, assim como em um filme de super herói, um protagonista relutando em testar suas habilidades ou as rejeitando. Tom não tem problemas com isso e acaba descobrindo que pode voltar ao passado e passa os primeiros minutos experimento seu “poder” e descobrindo os limites e as consequências – que nunca são graves.

Gêneros

Um dos positivos é o trabalho do filme em equilibrar romance e comédia, sem criar exageros em desses. Questão de Tempo sabe quando utilizar o romance para favorecer a comédia e vice-versa. No entanto, também é importante destacar os momentos mais dramáticos da obra, onde o diretor e também roteirista Richard Curtis sabe desacelerar o ritmo da história e dar tempo ao personagens refletirem e absorver os acontecimentos.

Foto: Reprodução/Universal Studios
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Personagens

Tim é definitivamente o protagonista da história. Mas isso não impede o filme de nos apresentar diverso personagens secundários interessantes, como seus familiares e amigos. Todos parecem apenas preencher lacunas de roteiro e auxiliar a comédia. Nenhum deles, com exceção talvez de seu pai e sua irmã, Kit Kat (Lydia Wilson), é propriamente desenvolvido ou propriamente apresentado. Eles apenas estão ali para cumprir um papel designado pelo roteiro, que esconde tais problemas através de bons diálogos e, com a direção, um excelente ritmo, que impede o público de se questionar sobre os incômodos gerados pelo filme.

Com isso, em algumas cenas vemos os personagens representando figuras caricatas, unidimensionais, como um artista frustrado ou o amigo solitário e otimistas. Eles fornecem bons momentos, mas, no fim, não se justificam ou se sustentam.

Foto: Reprodução/Universal Studios
Foto: Reprodução/Universal Studios

Não pense, nem volte no tempo, apenas aprecie

No início, Tim está em busca de uma vida perfeita com a pessoa perfeita; quer consertar todos os mínimos erros. No fim, ele compreende que viver assim o impede de realmente viver os momentos. Saber que pode voltar no tempo e consertar tudo, na verdade, o torna descompromissado com a realidade. Por isso, ele aceita a tarefa de viver normalmente dia após dia, tentando ser sua melhor versão, e, apenas um certo tempo, explorar novamente esses momentos, com o acréscimo de pequenos prazeres.