TBO Ela é o Cara: alguns filmes só são bons na memória

Como uma tentativa empoderamento feminino consegue o efeito contrário ao objetificar adolescentes estereotipados

Foto: Reprodução /DreamWorks SKG
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O ano era 2006 e Amanda Bynes era uma das principais atrizes adolescentes. Não por menos, ela protagonizava inúmeros filmes, dentre eles, o que será analisado no TBO desta semana, “Ela é o cara”. O filme tenta abordar, mesmo que superficialmente e cheio de esteriótipos, a misoginia no futebol. De lá para cá, a vida de Bynes mudou muito, mas a dificuldade da mulher em ser aceita no futebol – seja como atleta, jornalista ou até mesmo torcedora – nem tanto.

Mas voltando a falar do filme, o plot é simples: Viola (Amanda Bynes) vê o time de futebol feminino ser extinto em sua escola. Para não ter de largar o esporte, a garota decide assumir o lugar de seu irmão, Sebastian (James Kirk), em um colégio diferente para poder continuar jogando, enquanto o irmão se arrisca na música. Porém, as coisas dão errado quando a garota começa a nutrir sentimentos pelo colega de quarto e de equipe, Duke (Channing Tatum).

Seria muito fácil passar um pano para a obra por se tratar de um filme teen. No entanto, isso nunca foi motivo para ser raso. Exemplos como “10 coisas que eu odeio em você” (1999), “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995), “Meninas Malvadas” (2004), “A mentira” (2010), além de todos os filmes do John Hughes da década 1980 – mesmo com algumas temáticas polêmicas -, provam que não é necessário abrir mão de uma boa história para agradar adolescentes.

Em “Ela é o cara”, há uma tentativa de empoderamento feminino, porém, a forma rasa e, às vezes torta, de mostrar isso, acabam trazendo o efeito contrário. O roteiro é clichê e fraco, as atuações são fracas, a direção de Andy Fickman é nada inspirada e às vezes parece desorientada. O humor é onde o filme tenta se firmar, porém, ainda assim, a maioria das piadas não encaixam e raramente arranca risadas – exceto quando a gente ri de nervoso.

Foto: Reprodução /DreamWorks SKG
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Mensagem?

Se os homens da seleção estadunidense não costumam se destacar no futebol, o oposto pode-se dizer sobre as mulheres. A Seleção Feminina é sempre o time a ser batido em qualquer torneio que disputem. O filme na teoria seria um incentivo para as meninas seguirem no esporte, mas a forma como as mulheres são tratadas, mesmo após Viola ser aceita na equipe podem causar o efeito oposto.

Para provar que é uma menina, a personagem de Bynes precisa mostrar os seios para todo estádio. Sim, objetificação das bravas. O contexto piora quando lembramos que Viola é uma adolescente.

Existe, claro, o discurso da meritocracia, com o plano de Viola em provar seu ponto de vista através de suas habilidades. Existe também a ideia de mostrar o quão negligenciada as falas de mulheres são. No entanto, por causa dos esteriótipos e a falta de aprofundamento, essa mensagem também se perde.

Foto: Reprodução /DreamWorks SKG
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No fim, o filme não traz nada ou quase nada para a reflexão e, menos de 15 anos desde sua estreia, é possível dizer que ele envelheceu mal.

Rever “Ela é o cara” foi uma experiência decepcionante e, de certa forma, torturante. Tudo que pude pensar foi negativa a forma que a problemática foi abordada. Sem contar nos devaneios: “será que Amanda Bynes está realmente tão constrangida quanto parece nesta cena ou só está atuando?”… Bom, ainda bem que ao menos Channing Tatum conseguiu uma carreira após esse fiasco.

 

Filme: Ela é o Cara

Lançamento: 29 de outubro de 2006

Duração: 1h 45min

Gênero: Comédia , Romance

Direção: Andy Fickman

Elenco: Amanda Bynes, Channing Tatum, Laura Ramsey

Nacionalidades: EUA, Canadá