TBO A casa que Jack construiu: o quão patético são seriais killers – todos nós

Por Matheus Augusto

Foto: Reprodução/Zentropa Entertainments
Foto: Reprodução/Zentropa Entertainments

A Casa que Jack Construiu (2018) acompanha a jornada de Jack (Matt Dillon) como serial killer. Para o conhecermos melhor, ele decide nos contar sobre cinco assassinatos. Há então, várias mini-histórias sendo narradas de fundo. Uma delas é uma discussão sobre a definição de arte. Para Jack, é quase tudo, inclusive seus homicídios. E, assim com na arte, vemos, incidente após incidente, seu trabalho ser aprimorar, se desenvolver, até ganhar senso artístico elevado.

Um dos pontos mais fortes do filme é definitivamente a atuação de Matt Dillon. Ele é responsável por interpretar um personagem frio, mas, ao mesmo tempo, esquisito, com senso de humor deslocado. Outro grande feito da obra, em parte também responsabilidade do ator, é manter a comédia apenas como um elemento. O filme provoca, sim, algumas risadas desconfortáveis, mas consegue se manter no drama, sem tornar as situações agonizantes em caricaturas risíveis.

Apesar de ser considerado pretensioso, tais momentos – de excesso de drama ou criação de um delírio desnecessário – ocupam, de fato, poucos minutos em tela. O próprio filme pode parecer uma construção idiota ou burra, até mesmo um filme ruim sobre serial killer, mas é justamente isso. Lars Von Trier cria uma trama propositalmente com personagens estúpidos, debochando de como o tema, talvez por ter sua parte de saturação nas mídias, é repetitiva e extremamente ridículas de certo ponto de vista de coesão.

Além disso, como é narrado pelo personagem principal, a narrativa de uma história está condenada a ser contada pelo(os) vencedor(es) e, por isso, temos um relato de exaltação do protagonista e o rebaixamento, físico e intelectual, de sua vítimas. Não há uma verdade aqui, apenas um relato pessoal, egocêntrico. O serial killer aqui, como em outras obras, não é um personagem-gênio, mas quase totalmente dependente da sorte – assim como exemplos reais.

A história em segundo plano

Mais do que relatar assassinato, “A Casa que Jack Construiu” está interessado em colocar outras temas em pautas, mas não faz esforço para discuti-las ou apontar o caminho correto, reconhecendo a capacidade do público de tirar suas próprias conclusões, sem precisar ser convencido através de diálogos explícitos entre os personagens.

O filme, para além do conceito de arte, também discute a venda de armas, a negligência policial diante das atrocidades, a imobilidade da sociedade ao perceber indícios dos crimes, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) inocência e ingenuidade, céu e inferno, bem e mal. Mas, diante das gráficas cenas de violências, tais temas podem passar despercebidos frente à brutalidade.

Foto: Reprodução/Zentropa Entertainments
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Não são histórias sobre os assassinatos ou sobre as vítimas, mas sobre o caminho de Jack até sua obra-prima.

O final é bom, o epílogo não

Ao se encerrar, o filme se conclui de forma misteriosa, não excepcional, mas boa. A obra, porém, continua, com a narração de um epílogo que, ao meu ver, é totalmente desnecessário – e fraco, sendo totalmente destoante de suas horas anteriores.

Para chegar ao epílogo, o diretor parece, de certa forma, apressar o filme, não dando tempo ao público tempo de absorver a informação, que dá nome ao filme, e criando um ato pouco polido.

“A Casa que Jack Construiu” choca por sua exposição da violência, sem finalizá-la. “As mortes foram gratuitas”, pode alegar um crítico. Ora, morte, especialmente as vítimas de um serial killer são gratuitas, sem motivação que não o prazer. Por outro lado, enquanto distrai o público com sangue, a verdade mágica está a ocorrer. São nesses momentos que o diretor aproveita para criticar a banalidade da vida, não apenas a do outro, mas a nossa própria.
Todos nós queremos construir nossa própria casa, mas nem todas são feitas de tijolos…

Foto: Reprodução/Zentropa Entertainments
Foto: Reprodução/Zentropa Entertainments

A Casa que Jack Construiu (The House That Jack Built) — Dinamarca, França, Alemanha, Suécia, 2018

Direção: Lars von Trier

Roteiro: Lars von Trier, Jenle Hallund

Elenco: Matt Dillon, Bruno Ganz, Uma Thurman, Siobhan Fallon Hogan, Sofie Gråbøl, Riley Keough, Jeremy Davies, Ed Speleers, David Bailie, Ji-tae Yu, Christian Arnold, Cohen Day, Rocco Day, Jerker Fahlström, Osy Ikhile, Marijana Jankovic, Johannes Kuhnke

Duração: 155 min.

 

 

Trilha: 4,2
Edição: 4

Foto: Reprodução/Zentropa Entertainments
A Casa que Jack Construiu
Em um período de doze anos, Jack é um ardiloso assassino em série de mulheres que tem um único objetivo sangrento a cumprir: executar o crime perfeito, sem deixar nenhum tipo de rastro.
Atuação
Direção
Edição
Fotografia
Trilha Sonora
3.9
Notas