Análise sobre o filme “Pecadores”, da Warner Bros. Pictures (a convite da própria), aqui no site Cebola Verde. Confira a ficha técnica da trama:
Nome: Pecadores (Sinners)
Estreia: 17 de abril de 2024 de 2025 – 2h 17min
Direção: Ryan Coogler
Elenco: Michael B. Jordan, Hailee Steinfeld, Miles Caton
Distribuidora: Warner Bros. Pictures
Gênero: Terror, Aventura, Suspense
Ryan Coogler, um cineasta que demonstra uma maestria ímpar em fazer narrativas complexas com profundidade emocional e racial, eleva seu cinema a um novo patamar com o brutal e poeticamente carregado “Pecadores” (2025). Longe de ser apenas um filme de suspense ou terror, a obra se consagra como uma reflexão sobre moralidade e o peso das escolhas, elevada por uma atuação (ou duas) de Michael B. Jordan que transcende o extraordinário.
Desde as primeiras imagens, Coogler estabelece uma atmosfera densa e imersiva, onde cada sombra, cada movimento e cada diálogo ressoam com um simbolismo potente. É interpretar. A cidade pulsa como um organismo vivo, refletindo a turbulência interna dos personagens. A utilização da luz e da cor, ora claustrofóbica e escura, ora revelando breves vislumbres de esperança. Os objetos e os espaços cuidadosamente carregam significados que se desdobram em camadas, convidando o espectador a uma leitura ativa e reflexiva da narrativa. Por vez, a trilha sonora acompanha de forma gradativa o progresso dos protagonistas.
No centro disso tudo, existe a performance cativante de Michael B. Jordan. Em um papel que exige tanto força visceral quanto uma vulnerabilidade silenciosa. Seu olhar, por vezes atormentado, por vezes firme, comunica um universo de conflitos internos. A fisicalidade do personagem é inegável, mas é a sutileza com que ele expressa o peso das suas decisões e a busca por redenção que verdadeiramente impressiona. Cada microexpressão, cada hesitação, cada explosão de emoção é carregada de autenticidade, tornando sua jornada não apenas crível, mas profundamente humana e empática. Vale lembrar que, Jordan interpreta dois personagens: Fuligem e Fumaça. Ambos com suas próprias características, acompanhados de um CGI impecável. Não parece que é o mesmo ator.
O roteiro de “Pecadores” inteligentemente evita maniqueísmos clichês. É ousado. Os personagens não são meros arquétipos do bem e do mal, mas indivíduos complexos, moldados por suas circunstâncias e assombrados por seus erros — construídos ao longo de suas vidas. Será que o título do filme “Pecadores” está entrelaçado aos pecados capitais de cada personagem? A narrativa se desenvolve em um ritmo que permite a imersão completa no dilema moral enfrentado pelos protagonistas, explorando as consequências de suas ações. Os diálogos, afiadíssimos e carregados de subtexto, revelam as camadas de seus relacionamentos (atuais e pesados) e as tensões latentes que permeiam a trama.
Coogler não se contenta em apenas contar uma história na telona; ele utiliza o cinema como uma ferramenta para explorar questões existenciais profundas. Principalmente religiosa e racial. O simbolismo presente em cada cena, desde os envolvimentos casuais até os momentos de clímax, convida à interpretação e à reflexão sobre a narrativa. “Pecadores” é um filme que permanece na mente muito depois dos pós créditos, provocando discussões e reverberando com a complexidade do ser humano. E mais, o terror apresentado pelo roteiro é polissêmico (diversos significados) com diversos códigos.
Diante dos fatos supracitados, “Pecadores” (2025) é uma obra-prima cinematográfica que solidifica ainda mais o nome de Ryan Coogler como um dos cineastas mais talentosos e relevantes da atualidade. A combinação de um roteiro inteligente, ousado e simbólico, uma direção precisa e atmosférica, e, acima de tudo, a atuação magistral de Michael B. Jordan, elevam o filme a um patamar de excelência artística. “Pecadores” não é apenas um filme a ser assistido, mas uma experiência cinematográfica a ser sentida, estudada e contemplada, uma verdadeira oração visual sobre a fragilidade e a força do espírito humano em meio ao caos. Não, o filme não é sobre vampiros.
