Análise sobre o filme “Bela Vingança”, da Universal Pictures (convite da Universal Pictures BR), aqui no site Cebola Verde.
Confira a ficha técnica da trama:
Nome: Bela Vingança (Promising Young Woman)
Estreia: 29 de abril de 2021 (Brasil) – 1h 48min
Direção: Emerald Fennell
Elenco: Carey Mulligan, Bo Burnham, Alison Brie
Distribuidora: Universal Pictures
Gênero: Suspense, Drama, Comédia
“Bela Vingança” pode se assemelhar a títulos como ‘’Doce Vingança’’, a ‘’Vingança de Jennifer‘’ ou ‘’Vingança’’, mas consegue achar sua identidade própria distanciando-se totalmente desses outros filmes do gênero ao invés de buscar uma violência gráfica, vai mais para o lado da violência psicológica e humilhação, quebrando completamente a expectativa de quem procura um filme de uma mulher se vingando de maneira sádica de homens.
Entretanto, vamos fala sobre a premissa inicial do filme. Cassie é uma mulher de 30 anos que ainda mora com os pais, sem amigos, mas que esconde uma vida secreta. Por conta de um acontecimento marcante em seu passado, ela em todo fim de semana vai a um bar à noite, finge que está tão bêbada a ponto de não se aguentar em pé, esperando que algum homem tente levá-la para casa – se aproveitando de seu estado frágil aparente, para só aí ela possa surpreendê-los. Bem, o que acontece a seguir já se enquadra na categoria spoiler, mas o público já tem uma ideia do que pode acontecer.
Quebra de expectativa. Depois do encontro com seu primeiro alvo não vemos o que ela faz com ele, mas em seguida, a cena corta para a manhã do dia seguinte com Cassie andando descalça em uma rua com um plano em seus pés e devagar a câmera vai subindo. Primeiramente, vemos uma mancha vermelha em sua perna o que automaticamente faz o público pensar: ’’É o sangue do cara‘’, mas essa expectativa é quebrada com uma dose de humor e uma piada de duplo sentido que na verdade é uma macha de molho de um cachorro quente que a protagonista está comendo.
O roteiro é muito bem construído, (o que lhe rendeu o Oscar de melhor roteiro original) apesar de não ter grandes surpresas ou reviravoltas mirabolantes, ele foca na simplicidade e na construção de sua protagonista como essa mulher que teve um trauma e desde então não consegue seguir em frente.
Os diálogos são muito pontuais e não se utiliza de ferramentais expositivas para entregar as informações para o público. Por exemplo. no início do filme após o encontro com sua primeira ‘’vítima’’, ela pega um caderno e escreve o nome do sujeito e logo depois uma marcação indicando que a mesma está há muito tempo nessa vida e que diferencia os homens que já encontrou com caneta vermelha ou azul. Qual o critério para marcar com azul ou vermelho? Isso o filme responde mais para frente. O que ela faz com esses homens? Também é respondido, de maneira orgânica, e prendendo a curiosidade do telespectador sem a necessidade de um diálogo didático anunciando sua intenção.
O filme não glamouriza as atitudes de sua protagonista tão pouco faz o público torcer para os caras, ao mesmo tempo em que mostra que Cassie está destruída pelo ocorrido há sete anos atrás não confiando em ninguém, largando a faculdade e não lembrando nem mesmo do próprio aniversário, também mostra que ela está ciente de sua situação, mas está tão imersa em querer buscar justiça pelas próprias mãos que não consegue sair disso, fazendo o público se questionar se ela está disposta a machucar ou ferir pessoas somente para dar uma lição àqueles que a prejudicaram.
Surpreendentemente o longa é muito bem humorado, (o que particularmente eu gosto muito em filmes do gênero thriller) mas nunca destoando de sua premissa principal. Faz pequenas pausas com momentos mais calmos e até felizes, servindo para construir de maneira natural a personalidade de sua protagonista. Ao mesmo tempo que sentimos uma satisfação em vê-la tendo sua vingança, também torcemos para que Cassie não continue nesse processo, pois uma hora isso pode não acabar da maneira como ela prevê.
A trilha sonora é muito bem utilizada com músicas atuais para invocar o sentimento correto para cada cena ou construir um clima com potencial catártico com uma versão instrumental de “Toxic” de Britney Spears.
A atuação de Carey Mulligan está magnifica. Ela consegue ir de uma personagem completamente frágil e indefesa a uma mulher confiante e ameaçadora em questão de segundos, conseguindo captar todas as nuances de Cassie e não deixando que a personagem fique apática em relação ao público, como é muito comum em interpretações desse tipo, mas deixando quase impossível o telespectador não se identificar com ela.
“Bela Vingança” é um filme simples, mas muito bem construído. Mostrando que não é preciso de exageros ou violência gráfica para deixar o público tenso; mérito, com certeza, da diretora Emerald Fennell que trata do assunto com a sensibilidade que precisa, mas sem deixar o filme pedante em violências desnecessárias para transmitir o mesmo sentimento.