Desde 2016 o cinema nacional vem sendo sucateado e marginalizado por governos. O coronavírus veio com mais um inimigo, não só da 7ª arte em território nacional, como no mundo inteiro. Em todos os países quem trabalha com audiovisual luta para manter-se vivo. No Brasil, os cinemas estão fechados desde março, assim como as escolas. O motivo para tal é óbvio: não é seguro aglomerar pessoas em meio a maior pandemia enfrentada em décadas. No entanto, após bares e outros estabelecimentos serem reabertos, um movimento para a volta do cinema tem tomado forma.
Nesta semana foi divulgado um festival chamado “De volta ao cinema” com data marcada para setembro. Em sua programação são blockbusters – quase todos estadunidenses -, sendo que a maioria consta nos catálogos dos serviços de streaming mais famosos no país – Netflix, Amazon Prime e Telecine.
A iniciativa fomentou ainda mais a discussão a cerca da reabertura do cinema. Os organizadores do evento garantem que o festival seguirá um protocolo a fim de evitar a proliferação do vírus dentro da sala de cinema. Mas em um país onde o público não consegue sequer desligar o celular enquanto assiste ao filme, é muita inocência presumir que o “protocolo”, seja lá qual for, será realmente ser cumprido.
Ainda falando da iniciativa, um evento chamado pelos organizadores de “maior festival de cinema nacional” conta com menos de 1/5 da programação nacional. Sem contar que não há nenhuma estreia. Dentre os filmes há “Harry Potter e a Pedra Filosofal” (2001), “O Exorcista” (1973), “Matrix” (1999), “Crepúsculo” (2008), “Homem-Aranha no Aranhaverso” (2018), “Os Vingadores” (2012) e “Minha mãe é uma peça” (2013).
Incentivo a indústria audiovisual?
Conforme os organizadores, o intuito do festival é servir como um respiro para a indústria cinematográfica neste momento. Mas essa que vos fala não poderia discordar mais desta justificativa, visto que a atitude sequer ajuda a indústria cinematográfica do Brasil, apenas os exibidores. Não há presença ou incentivo para os atores, diretores, produtores e demais profissionais. O número escasso de películas nacionais jogam os holofotes para um problema já debatido anteriormente que é a falta de salas para produções brasileiras.
É muito mais uma questão de lucrar em meio a crise do que de fato lutar para manter o cinema nacional vivo. No Brasil, já foram contabilizados mais de 110 mil mortos pelo coronavírus, com uma média de mil mortes diárias. Estas métricas não devem ser ignoradas antes de pensar a reabertura das salas.
Agora imagine você tendo de explicar a sua família que pegou Covid porque foi assistir “Crepúsculo” no cinema no meio de uma pandemia…
Festivais on-line
É de conhecimento geral que os cinéfilos de plantão sonham em voltar a frequentar os cinemas, mas para tal é preciso parcimônia. Porém, como forma de suprir um pouco essa necessidade, diversos festivais conceituados, além de novos, estão realizando suas versões on-line.
Uma “thread” foi criada no twitter pela usuária @dricecchi com os principais festivais de cinema a serem realizados de forma on-line. Baseada neste post, resolvi filtrar os festivais nacionais que serão feitos desta forma.
Entre 20 a 30 de agosto, acontece o “Curta Kinoforum”. Realizado pela Associação Cultural, o 31º Festival Internacional de Curtas-Metragens de SP é on-line e gratuito.
Ainda entre 20 e 30 de agosto também é realizado o 4º Festival Ecrã, com incentivo ao cinema experimental. Todos os filmes do festival são disponibilizados gratuitamente.
Até o próximo dia 23 é a vez da 2ª Mostra de Cinema Egípcio Contemporâneo, edição 100% online e gratuita que reúne a pluralidade da produção egípcia.
Até dia 30 acontece o Festival Guarufantástico. Este é um evento de de curtas independentes e neste ano tem sua edição realizada completamente on-line.
Minas também entra nesse circuito on-line com o Cineop, realizado entre 3 e 7 de setembro. A 15ª Mostra de Cinema de Ouro Preto além de on-line e abrangente, é também gratuita.
A 48ª edição do maior e mais tradicional festival de cinema da América Latina também será on-line. O Festival de Gramado acontece entre 18 e 26 de setembro.
Até dia 20 de setembro é a vez da Mostra Ecofalante. Totalmente on-line e gratuita, a 9ª Mostra Ecofalante de Cinema traz 98 filmes de 24 países, além de debates com convidados especiais.
Por fim, entre 22 de outubro e 4 de novembro acontece a Mostra de São Paulo. A 44ª edição da Mostra Internacional de Cinema terá cerca de 150 filmes em streaming com ingresso a R$ 6. A quantidade exata e os nomes dos títulos selecionados serão anunciados em setembro.