Puppi lança vídeo gravado ao vivo no topo de um prédio no Rio de Janeiro

Em formato solo, instrumentista mescla beats do drum n’ bass com sample de Beethoven.

É cara a cara com o Pão de Açúcar que o violoncelista italiano Federico Puppi recria, ao vivo, a faixa “Em Direção Obstinada e Contrária” em seu mais novo vídeo. Presente no álbum “Marinheiro de Terra Firme”, seu segundo da carreira e lançado este ano, a música quase transforma o cello elétrico em uma guitarra, interagindo com os beats eletrônicos criados pelo músico, sua própria banda-de-um-homem-só.

Nada melhor do que interpretar, de cima de 17 andares de um prédio em Botafogo, no Rio de Janeiro, a sensação de liberdade tão presente na música que marca o lado B, o início de uma jornada mais profunda para o Marinheiro do disco. O título da composição, derivado de uma canção de Fabrizio de André – “Smisurata Preghiera”, traduzida como “Reza Infinita” -, remete à busca, à vontade de ir além. Tanto que, nesse mesmo espírito, Puppi alia as batidas do drum n’ bass a um sample de ninguém menos que Beethoven.

“Em direção obstinada e contrária é subir o rio contracorrente. Ir na contramão. A força da descoberta, da liberdade de ir contra. O próprio título é uma citação de um verso da música de Fabrizio de André, que faz parte do seu último álbum, ‘Anime Salve’. Essa música nasceu de um fragmento de Beethoven, da Ouverture do Coriolano, que ‘sampleei’ e daí foi nascendo o resto. Beethoven e drum n’ bass, a mistura de dois elementos aparentemente tão distantes”, reflete Puppi.

Para dar forma a essa criação inusitada, o instrumentista conta com a ajuda de colaboradores igualmente dispostos a pensar fora da caixa. Foi o caso do clipe de “Ciranda dos Náufragos”. O vídeo dirigido, filmado e editado por Almir Chiaratti dá nova amplitude à imagem de Puppi. Exibida nos prédios, ela representa a figura do expatriado, que está em todo lugar – ainda que não seja notado.

Na faixa “Em direção obstinada e contrária”, o músico dá continuidade a essa poética. Aqui, o Marinheiro urbano apresentado na primeira parte ressurge em meio aos prédios do Rio de Janeiro, cidade que acolheu Puppi quando decidiu se mudar para o Brasil. Agora, porém, ele tem um novo olhar e horizonte, guiados pelas lentes do diretor André Hawk, da Meduzza Filmes.

“Um Marinheiro urbano que aparece nos prédios da cidade, que pode estar em qualquer lugar, pode ser qualquer um. Assim comecei a imaginar este vídeo, colocar o marinheiro fisicamente em cima de um prédio que pudesse expor a urbanidade, o concreto e ao mesmo tempo um horizonte natural amplo e maior. Quando chegamos lá em cima, nos demos conta da altura real dos 17 andares, sem qualquer parapeito. Isso dá uma tremedeira nas pernas imediata, o espaço parecia minúsculo e parecia impossível conseguir gravar. Depois de um tempo de aclimatação, começamos a ficar acostumados com aquela situação e o espaço começou a nos parecer um pouco mais confortável. Fizemos alguns takes até achar o certo, sem olhar muito pra baixo e sempre nos lembrando de ficar longe da borda. Virou um ballet entre câmera, assistente, foco e violoncelo no topo do Rio de Janeiro”, recorda Puppi.

Para recriar a música ao vivo, ele reproduziu o formato que utiliza em seus shows: cello elétrico e Ableton Live, controlado através de uma pedaleira. A mescla de homem-máquina é uma constante em suas apresentações por abrir possibilidades ilimitadas. Dono de uma técnica refinada e uma vontade incontrolável de se reinventar, o artista reúne influências que vão do clássico ao jazz passando pelo punk rock. No Rio desde 2013, seu trabalho mais reconhecido é o disco “Guelã”, de Maria Gadú, que co-produziu com a artista. Tido pela crítica especializada como um marco na carreira de Gadú, o álbum foi indicado ao Grammy Latino.

Em 2015, ele lançou “Canto da Madeira”, seu elogiado disco de estreia, que ficou entre os melhores do ano na lista do conceituado site Embrulhador. Três anos depois, preparou seu mergulho mais profundo, lançando “Marinheiro de Terra Firme”, um álbum onde une os sons de seu cello com forte pegada eletrônica inspirada pelo hip hop, o jazz contemporâneo nova-iorquino e o rock psicodélico. O disco é um ponto de virada na carreira de Puppi, que contou com a participação especial de Milton Nascimento e recentemente passou pela Itália com a turnê desse trabalho. Ele segue divulgando o álbum também circulando pelas cidades brasileiras.