CCXP19 | “Free Guy” é um sopro de novidade em meio a um evento de franquias

Para uma Comic Con, nada mais empolgante que o anúncio de novos projetos dentro de marcas já consolidadas. Os que representam originalidade, por sua vez, são crianças menores em comparação aquelas que carregam a herança de seus antepassados. Esse é o caso de “Free Guy”, longa estrelado por Ryan Reynolds e dirigido por Shawn Levy, que conduziu alguns episódios da série “Stranger Things”. Juntamente ao ator Joe Keery, eles chegaram na CCXP 2019 dispostos a vender uma obra ao público que garantem ter a capacidade de ser um clássico da contemporaneidade.

Em “Free Guy – Assumindo o Controle”, um dos pontos que mais chamam atenção no que tange à expectativas é o valor dado ao protagonista. O próprio Reynolds comentou que Guy, o seu personagem, seria o melhor de toda a sua carreira. Isso significa algo bem grande, continuou o ator, referindo-se ao fato de ter interpretado também Deadpool. No filme, Ryan Reynolds vive um NPC que não sabe que é um personagem coadjuvante de um videogame. Ele acaba, no entanto, tendo conhecimento do que é o mundo ao seu redor e passa a assumir o controle de sua vida. Quiçá a grandiosidade do protagonista more nas virtudes que sua personalidade promete incorporar.

É que, como comentando e mostrado no painel – que contou com duas cenas da obra e um trailer –, Guy representa um misto de bondade e ingenuidade. Logo, transformará o jogo que passa a jogar em um espaço menos caótico e destrutivo, em contraste à maneira como os jogadores reais se comportam dentro daquele universo. Guy tentará crescer e se tornar alguém importante no videogame sem precisar tornar-se um sociopata no processo. Reynolds até mesmo citou inspirações suas para o seu personagem, como Peter Sellers em “Muito Além do Jardim”, de 1979. Para alguém conhecido mundialmente pelo seu papel como o Mercenário Tagarela, essa é uma virada interessante de rumos.

Já Shawn Levy – que conseguiu, de “Stranger Things”, trazer Joe Keery consigo –, o espelho que se tem no propósito do projeto é o impacto de “De Volta Para o Futuro” para todas as gerações que vieram depois do longa da década de 80. Por parte de uma nostalgia oitentista imensa que os anos 2010 viveram, é curioso que a resposta do cineasta seja justamente uma obra que saia bastante daquele escopo. Até o momento, o viés saudosista de “Stranger Things” não está tão aparente. Enquanto “Jogador Número 1” pegava a tecnologia contemporânea, mas também a reajustava às referências ao passado, o mundo de “Free Guy” aparenta ser completamente novo. Nisso, querer ser um filme tão importante para essa geração quanto outros de demais é um anseio mais honesto.

Pelo que foi mostrado, entretanto, as expectativas não precisam ser tão grandes. Das cenas, a primeira não conseguiu envolver o público da CCXP 2019, por trazer uma comédia apenas mediana. A segunda, por sua vez, estabeleceu pontos da narrativa e não conquistou pela inerente ausência de contextualização dramática. Já o trailer, esse sim competente, estabeleceu uma empolgação maior. Espera-se que seja esse o ritmo transportado para o longa-metragem, uma promessa desavisada que terminará escrevendo um pedaço, nem que pequeno, da história do cinema blockbuster.

Texto por Gabriel Carvalho